A cidade do Rio de Janeiro registrou, entre a noite de terça (30) e a tarde desta quarta-feira (1), uma série de tiroteios em favelas pacificadas ou em processo de pacificação que já deixaram ao menos dois mortos, cinco feridos e pelo menos 11 mil estudantes sem aulas.
O mais recente tiroteio foi registrado na tarde desta quarta na favela Vila do João, pertencente ao Complexo da Maré (zona oeste), ocupada pelo Exército e pela polícia do Rio desde abril deste ano. A Maré ainda não possui UPP (Unidade de Polícia Pacificada), mas é ocupada 24 horas por dia por militares. À despeito da ocupação, ainda há traficantes disputando controle pela venda de drogas em algumas áreas do complexo de favelas.
Na tarde desta quarta-feira, por volta das 14h30, tiros foram disparados em direção à avenida Brasil, uma das principais vias expressas do Rio, que teve que ser fechada por cerca de 40 minutos. Motoristas usaram a contramão para fugir dos disparos. Um dos acessos à favela foi fechado por dois blindados do Exército. Moradores evitavam circular pelas ruas e soldados se protegiam entre muretas à beira da avenida.
A Fundação Osvaldo Cruz fica às margens da avenida Brasil, do outro lado de onde partiram os tiros. À tarde surgiram boatos de que criminosos tentaram invadir a instituição de pesquisa, mas a informação foi negada à reportagem pela assessoria de imprensa da Fiocruz.
No final da noite de terça, um homem ainda não identificado foi morto após uma troca de tiros entre facções rivais na favela chamada Conjunto Esperança, também na Maré.Segundo nota divulgada pela Força de Pacificação, que reúne militares do Exército e da polícia, "após o emprego das tropas na região do confronto, foi encontrado o corpo de um homem (não identificado), aparentando 18 anos de idade, possivelmente vítima da troca de tiros entre as facções". A delegacia de homicídios foi acionada e está investigando o caso.
A segunda morte aconteceu em uma troca de tiros entre homens da Polícia Militar e traficantes em uma favela do Complexo da Penha, durante a noite de terça. Na mesma ação dois homens foram baleados e levados para o hospital. O Comando de Polícia Pacificadora informou que foram apreendidos no local uma pistola, carregadores, munições, um explosivo, três tabletes de maconha e 1.336 sacolés de cocaína.
O Complexo da Penha possui ao menos três UPPs. Após a ação, moradores das comunidades Vila Cruzeiro e Parque Proletário, integrantes do complexo, atearam fogo em latas de lixo e arremessaram objetos nas bases policiais.Três civis foram baleados na noite de terça na favela da Mangueira, zona norte do Rio, que também tem UPP. Segundo o comando de Polícia de Pacificadora, policiais militares ouviram tiros na região e verificaram um homem, uma mulher e uma criança baleados sem gravidade. Ainda de acordo com a UPP, não houve troca de tiros e, após buscas, policiais encontraram cápsulas deflagradas e uma pistola na região.
Aulas canceladas
Devido aos recente episódios violentos, muitas escolas municipais cancelaram atividades, o que deixou ao menos 11 mil alunos sem aula. Estudantes de escolas de três regiões da cidade - no Complexo da Maré, Penha e Alemão - não puderam estudar nesta quarta.De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, somente na Maré 6.840 alunos não puderam estudar porque seis escolas, três creches e um EDI (Espaço de Desenvolvimento Infantil) não abriram as portas. Na Penha, são quatro escolas e um EDI estão fechados, com 3.010 sem aulas.Já no Alemão, 1.308 alunos não tiveram aulas em duas escolas que não abriram. No total, 11.158 alunos não tiveram acesso ao ensino nesta quinta na capital do Rio.