Abaixo a publicidade do cigarro
No primeiro episódio de Mad Men, seriado criado por Matthew Weiner que mostra o mercado da publicidade na década de 1960, o protagonista Don Draper (Jon Hamm) precisa criar um anúncio para uma marca de cigarro. Na época, nos Estados Unidos, havia rumores de que o fumo fazia mal à saúde, por isso seria impossível usar os estereótipos do herói ou do médico fumante.
Draper, então, criou um slogan voltado à felicidade e à liberdade. No texto, dizia "que todos os cigarros do mundo são venenosos, mas o nosso é tostado". Em uma tacada, ele driblou as críticas e cunhou a frase que faria as vendas crescerem: "Its toasted" (É tostado, em português). Como na ficção, a relação entre cigarro e felicidade foi utilizada por muitos anos pelas empresas. A imagem do cowboy fumante em cima do cavalo ainda é presente na cabeça de quem viveu entre as décadas de 60 e 90.
Com a comprovação dos malefícios do fumo, os governos começaram a proibir a propaganda nos veículos de comunicação. O primeiro país a impedir foi a Noruega, em 1975. Logo depois, França, Nova Zelândia e outros 24 países entraram na onda. No Brasil, foi só em 1996, por meio da Lei 9.294, que os comerciais na TV e rádio foram extintos.
"Essa proibição é a forma mais eficaz de lidar com o tabagismo, pois coloca uma barreira ao acesso e funciona em longo prazo", diz Marcelo Kolling, coordenador do programa de tabagismo da Secretaria Municipal de Saúde.
Por aqui, conforme a legislação, só pode existir propaganda nos locais de venda. Mas até nesses locais há restrições. Nesta semana, o Procon de São Paulo multou em R$1,1 milhão a Philip Morris por causa da campanha "Talvez Malboro". Na publicidade da empresa, havia imagens de jovens acompanhadas de frases como "talvez vou criar o momento".
A Philip Morris, em nota a imprensa, disse que a "autuação carece de fundamento legal" e que a "decisão, sobre a qual caberá recurso, deverá ser proferida somente após a avaliação da defesa e das provas produzidas."
Além de não poder fazer comerciais, as empresas de cigarro também precisaram adequar suas embalagens. Hoje, segundo a legislação, as mensagens de advertência ao fumo ocupam 100% da parte traseira da carteira. A partir de 2016, no entanto, elas terão que incluir textos de advertência em pelo menos 30% da parte frontal. Ponto para o governo.
O funileiro Mauricio Ricardo da Silva, 47 anos, despertava às 3 horas da manhã todos os dias. Sonolento, saía da cama, pegava o maço de cigarros com filtro vermelho e ia para a varanda. Fumava e voltava a dormir, para levantar às 6 horas. Ao longo do dia, consumia mais 99 cigarros. Mauricio viveu assim por 26 anos. "Uma vez até resolvi parar, e fiquei sem fumar por um tempo, mas depois voltei de bobeira", confessa. A libertação do fumo ocorreu em 2004, quando um amigo o chamou para fazer um tratamento. "Fiz e parei. No fundo, o que mais contou foi a força de vontade", diz. Atualmente, ele faz parte de um grupo que tem aumentado no Brasil: o de ex-fumantes. Algo para se comemorar hoje, no Dia Nacional de Combate ao Fumo.
INFOGRÁFICO: Veja dicas para se livrar do cigarro
De acordo com o estudo Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, do Ministério da Saúde, em 2006 15,7% da população brasileira com mais de 18 anos fumava. Em 2013, o índice baixou para 11,3%. A quantidade de pessoas que fumam mais de 20 cigarros também apresentou queda. Em 2006, eram 4,6%; no ano passado o índice caiu para 3,4%.
Embaraço
Para Vera Lúcia Mendes de Oliveira, master practitioner em Programação Neurolinguística e criadora do programa "Eu Parei", o cigarro deixou de ter "status". "O glamour de fumar, até pouco tempo atrás estampado nos anúncios publicitários, já não existe mais. Hoje, o tabaco tem a característica crua de vício mesmo. Todo o verniz de antigamente se foi."
A diarista Roseli Silvane da Silva, 40 anos de idade e 24 de fumante, arranjou encrenca em um terminal de ônibus de Curitiba na época em que ainda era permitido fumar no local. "Eu acendi um cigarro e o homem pediu para eu sair de lá. Mesmo depois que apaguei, ele ficou me encarando feio. Hoje isso é frequente nas ruas também", conta.
Além dos riscos à saúde do fumante, com a inalação de diversos produtos químicos muitos deles cancerígenos , a fumaça do cigarro também atinge o chamado fumante passivo. "A maior parte dos malefícios não é causada pela fumaça tragada, mas a que fica queimando na ponta do cigarro", explica o pneumologista Camilo Faoro. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a fumaça do cigarro, em ambiente de trabalho, mata cerca de 200 mil pessoas todo o ano.
Além de fazer mal, fumar perto de outras pessoas também é visto como falta de educação, conforme observa a entregadora técnica Natalia Rodrigues, 26 anos: "Eu não falo nada quando fumam perto de mim, mas acho uma tremenda falta de educação. Não sou obrigada a inalar a fumaça dos outros."
Nova lei
A partir de dezembro, não será permitido fumar cigarros, cigarrilhas, charutos ou cachimbos em locais de uso coletivo público ou privado em todo o Brasil. A recomendação está registrada na Lei Antifumo, que, apesar de ter sido regulamentada em 2 de junho deste ano, começa a valer no fim ano. A lei também proíbe a presença de fumódromos em bares e restaurantes. Fumar? Só em casa ou ao ar livre. A legislação, no entanto, permite o cigarro em cultos religiosos, estúdios de filmagem (caso seja preciso para a produção da obra) e instituições de tratamento. Em Curitiba, por exmeplo, já existe uma lei municipal que proíbe o uso de cigarros em locais de uso coletivo.
Tratamento
A prefeitura de Curitiba, em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde e o Ministério da Saúde, oferece tratamento gratuito para quem deseja parar de fumar. Basta procurar a unidade de saúde mais próxima. São 64 unidades de saúde, além de três Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e quatro hospitais. A procura, segundo o coordenador do projeto Marcelo Kolling, cresce 10% ao ano. Só em 2014, foram quase 2,5 mil atendimentos.
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