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Entrevista

“Todos ficaram abatidos”

São Paulo – Pela primeira vez desde o acidente com o Boeing da Gol, dois controladores de vôo quebram o silêncio e revelam, em reportagem publicada na revista "Época", já nas bancas, detalhes do episódio, contando o que aconteceu na torre de controle com a equipe responsável por monitorar os aviões. Os dois ainda confirmam a existência de áreas cegas nos céus do Brasil. "Estou tomando remédio para dormir porque a imagem na minha cabeça é o piloto brigando com a aeronave para não cair".

Nos dias após a tragédia, os profissionais passaram a conviver com uma pergunta, feita por diversos interlocutores: "Por que vocês não fizeram alguma coisa, quando notaram o problema?" A resposta é simples: "Porque, para nós, estava tudo normal". Os dois controladores, que pediram para não ser identificados, são chamados de A e B. Abaixo os principais trechos do que disseram:

Quando os controladores perceberam que o Boeing estava desaparecido, o clima ficou tenso. Controladores e oficiais chegaram a discutir.

Controlador A – "Na hora do acidente, estava na sala ao lado, tinha ido pegar um documento. Quando voltei, vi os meninos comentando que precisavam fazer um telefonema de emergência. Depois do desaparecimento da aeronave, todos ficaram bem abatidos.

Controlador B – "Uma das controladoras da região Rio de Janeiro começou a chorar. Aí o centro todo ficou comovido. Tinha de ter chegado um psicólogo naquela hora, mas não chegou ninguém. Os oficiais presentes não tinham noção da situação.Para os controladores, o jato cumpria seu plano de vôo normal. O que não funcionava era o transponder, aparelho que poderia evitar a colisão.

Controlador A – "O vôo do Legacy estava normal. Só tivemos noção do acidente quando o avião da Gol desapareceu. Quando o Legacy pousou em Cachimbo entrou em contato falando que fez uma descida de emergência porque havia batido em algo. Aí o controlador falou: ‘Como bateu, se ele estava a 36 mil pés?

Controlador B – "A intenção de fazer contato com o Legacy era avisar que o equipamento de transponder estava inoperante, encerrar o serviço porque a aeronave ia entrar numa área que o radar não cobria e passar as freqüências do próximo setor. Se soubessem que algo estava errado, seria fácil tirar o Boeing da Gol da rota, dizem os controladores.

Controlador A — "Se soubéssemos que o Legacy estava a 370, seria fácil. Já passamos por situações muito mais difíceis.

Controlador B — "Em Cuiabá, por exemplo, havia duas aeronaves se aproximando (em rota de colisão) e ninguém conseguia contato com elas.

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