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| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Na antevéspera do Natal, comerciantes informais tomaram conta da Rua XV de Novembro, no Centro de Curitiba. As bancas formam um corredor nas quadras entre as ruas Doutor Muricy e João Negrão. Como era de se esperar, trabalhadores do comércio formal têm reclamado da concorrência ilegal. Mas até mesmo ambulantes falaram que a situação “passou dos limites”. “Está parecendo o Paraguai”, disse um deles.

É impossível passar por ali sem se sentir em um grande shopping popular a céu aberto. Há produtos para todos os gostos, desde as tradicionais banquinhas com DVDs e meias até uma feira de livros que vende curiosidades como o “Oráculo do Amor”, de Georgia Routsis Savas, até a biografia da rockeira Rita Lee. Tudo por R$ 10. O idioma também é misturado: vai do portunhol dos bolivianos, passando pelo português misturado com francês falado pelos haitianos até o tradicional sotaque curitibano.

Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Segundo comerciantes formais e informais, o Calçadão da XV vinha sendo tomada pelo comércio ambulante apenas após as 17 horas. Segundo ambulantes, a estratégia era uma forma de driblar a fiscalização que ocorria durante o dia e também preservar a atividade do comércio formal. Alegando, porém, falta de fiscalização, eles optaram por começar a trabalhar desde cedo no período das compras de Natal.

Vagner Brito trabalha com o comércio informal há 12 anos. Segundo ele, nunca havia sido possível trabalhar durante o dia todo nas datas que antecedem o Natal. “Não sei ao certo. Mas parece que com o fim da gestão [do prefeito Gustavo Fruet], não está havendo fiscalização. A gente vinha trabalhando normalmente nos fins de tarde, como sempre, mas percebemos que não havia fiscais e aproveitamos para vir mais cedo hoje [sexta-feira, 23]”.

Apesar de estar se beneficiando por essa suposta falta de fiscalização, o vendedor de meias fez um desabafo. “Essa multidão de ambulantes é reflexo da crise. A cidade está abandonada e sem fiscalização, mas as pessoas não têm dinheiro para comprar. Então não está ruim só para o comerciante. É para gente também. Se pudesse escolher, preferiria trabalhar menos por causa da fiscalização e ter gente com dinheiro para comprar nossa mercadoria”, lamentou.

Em nota, a prefeitura de Curitiba afirma que a fiscalização está sendo realizada normalmente em dias úteis, mas foi suspensa nos fins de semana e dias de ponto facultativo, como é o caso desta sexta-feira (23). A medida fez parte de um pacote de corte de despesas do executivo municipal. Confira abaixo a nota da prefeitura na íntegra.

Críticas

Há, porém, quem discorde da invasão informal. Leuza Alves Pereira, 79 anos, passou pela reportagem e soltou um “que horror”. Ao ser indagada sobre o motivo do desabafo, ela disse que nunca tinha visto algo parecido na cidade. “Essa desculpa da crise não cola. Espero que o novo prefeito não permita esse tipo de coisa”, afirmou.

Gerente de uma loja de meias – um dos produtos prediletos dos ambulantes –, Rosana Natividade também lamentou a situação. “O fim de ano era uma oportunidade de nos recuperarmos do terrível ano de 2016. Nosso produto é muito diferente do vendido na rua. Mas é claro que acabemos perdendo aquele cliente de ocasião, que não se importa muito com a qualidade”, afirma.

Veja a nota da prefeitura na íntegra:

“A expressiva queda na arrecadação obrigou a Prefeitura a fazer uma série de cortes de despesas, inclusive de horas extras, a fim de garantir o pagamento de salários e o funcionamento de serviços essenciais, especialmente a rede de saúde. Assim, a fiscalização continua ocorrendo normalmente nos dias úteis, mas está suspensa em fins de semana e dias de ponto facultativo, como é o caso desta sexta-feira [23].”

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