Trabalhadores rurais incendiaram e destruíram ontem à noite o Fórum de Matriz de Camaragibe, a 77 quilômetros de Maceió. Os manifestantes ameaçaram de morte o juiz da comarca, que foi retirado do município sob proteção policial. Além do Fórum, outras repartições públicas foram depredadas. Soldados do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar de Alagoas (Bope) estiveram na cidade, foram recebidos a pedradas e só conseguiram controlar a fúria dos manifestantes na madrugada de hoje. Durante o confronto, alguns manifestantes disseram que foram espancados pelos policiais.
Segundo informações da Polícia Civil de Alagoas, mais de cem manifestantes foram presos, mas apenas cerca de vinte foram transferidos para os presídios da capital. Os demais foram liberados. O protesto começou pela manhã, com a interdição de um trecho da rodovia AL-101 Norte, mas à noite fugiu ao controle das lideranças do Sindicato de Trabalhadores Rurais e se transformou em atos de vandalismo. O delegado da Polícia Civil Rodrigo Rubiali disse que a depredação só não foi maior porque o policiamento na cidade foi reforçado. Mesmo assim, o prédio do Fórum foi totalmente destruído.
Os manifestantes protestavam contra a inoperância da Justiça diante de um suposto golpe de aliciamento revelado pela Delegacia Regional do Trabalho (DRT), em conjunto com a Procuradoria Regional do Trabalho (PRT) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF). O estopim do protesto foi a liberação dos acusados Cícero Gomes dos Santos e José Ferreira Lins Filhos para que respondessem ao processo em liberdade. Eles foram presos na quinta-feira da semana passada e transferidos para a sede da Polícia Federal em Maceió, depois de sofrerem ameaças de linchamento. Como eram réus primários, eles pagaram fiança e foram liberados.
Cerca de 900 trabalhadores rurais, supostamente aliciados para trabalhar na lavoura de cana-de-açúcar de Minas Gerais e São Paulo, reivindicam a devolução do dinheiro entregue aos acusados. Segundo os manifestantes, cada trabalhador pagou cerca de R$ 120,00 para ter acesso aos postos de trabalho nos dois Estados. Eles disseram também que entregaram suas carteiras de trabalho aos suspeitos e estavam revoltados porque os documentos não foram devolvidos.
O Tribunal de Justiça de Alagoas e a Corregedoria de Justiça de Alagoas informaram que uma equipe, composta por desembargadores e juízes, vai comparecer ao município para fazer um levantamento dos estragos, ouvir os funcionários do Fórum e tomar outras providências. Após os protestos, o prédio do Fórum foi cercado por policiais e interditado. Durante a invasão do prédio pelos manifestantes, todos os documentos do Cartório Eleitoral foram queimados e os equipamentos de informática destruídos. As secretarias de Educação, Assistência Social e Saúde, além dos prédios da Biblioteca Municipal, da prefeitura e da Associação dos Deficientes (Adefal) também foram depredados. A prefeitura da cidade ainda não tem um balanço dos prejuízos.
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