Curitiba No fim da manhã do dia 11 de setembro, a reportagem da Gazeta do Povo entrou em contato com a professora aposentada da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Maria Aparecida de Moraes e Silva. Há 30 anos ela acompanha o trabalho dos cortadores de cana-de-açúcar. Naquele dia, ela recebeu, da Pastoral do Migrante, a informação de que mais um trabalhador havia morrido.
Edílson de Jesus Andrade, de 28 anos, era de Tapiramutá (Bahia) e morava em Guariba, na região de Ribeirão Preto. Nas estatísticas, ele foi o 22.º cortador de cana que morreu entre 2004 e este ano. É a quinta morte em 2007 suspeita de excesso de esforço. Edílson começou a trabalhar no corte de cana com 17 anos e há 10 vivia em Guariba com a mulher e as filhas de 2 e 4 anos.
O atestado de óbito aponta como causa da morte uma doença rara chamada púrpura trombocitopênica idiopática. O paciente fica mais suscetível a hemorragias e por isso são aconselhados a evitar esforço físico e contato com objetos cortantes.
Mais leve
Segundo a professora Maria Aparecida, que vive em São Carlos (SP), aproximadamente 700 mil pessoas atuam no corte de cana em todo o país. A maioria é homem e tem entre 18 e 30 anos de idade. Os cortadores trabalham, pelo menos, das 7 às 17 horas, com uma folga semanal. Muitos trabalham nos dias de folga, ressalta a professora, quando recebem o dobro do valor pago normalmente por tonelada colhida. "É um artifício das usinas para fazer com que o trabalhador não pare", critica Maria Aparecida.
De acordo com ela, são pagos R$ 2,50 por tonelada colhida. Os bóias-frias têm uma meta a cumprir: cortar de 12 a 15 toneladas por dia. Ela lembra que esta carga de trabalho vem crescendo. Na década de 90, conta, eram exigidas 10 toneladas diárias e na década de 80, de 5 a 8 toneladas.
E tem um detalhe, aponta a professora. Com o tempo, a cana ganhou mais sacarose e perdeu água. Então, ficou mais leve. Segundo ela, há cálculos que mostram que hoje o trabalhador tem de cortar três vezes mais cana do que na década de 80 para obter a mesma quantidade.
"Vida útil"
De acordo com a Pastoral do Migrante, um estudo da Unesp de Araraquara mostra que a "vida útil" dos cortadores de cana no estado de São Paulo é de 15 anos. Muitos começam aos 18 anos e aos 34 anos não podem trabalhar mais, nem mesmo em outras profissões, devido ao esforço feito nos canaviais.
Maria Aparecida diz que as condições de trabalho são muito ruins. Os trabalhadores cortam a cana queimada, aspiram fuligem e acabam tendo problemas respiratórios. Também trabalham sob calor de até 40 graus, lembra a professora, ficam expostos ao sol e muitos têm câncer de pele.
Apesar de tudo isso, a professora afirma que as condições de trabalho em São Paulo, que concentra dois terços da produção de cana-de-açúcar do país, são melhores do que em outras regiões porque a fiscalização é intensa. Fazendeiros e usineiros acabam oferecendo aos trabalhadores os equipamentos necessários para que eles trabalhem com segurança. "Em estados do Nordeste ainda tem bóia-fria cortando cana descalço", lamenta a professora.
Para ela, a função do cortador de cana-de-açúcar pode desaparecer. Maria Aparecida diz que uma lei estadual, em São Paulo, determina que as queimadas nas plantações de cana terminem em 2017. A tendência, com isso, é a mecanização cada vez mais freqüente.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora