Apesar do reforço do policiamento, o tráfico voltou a atacar nas ruas de Copacabana, no Rio. Dois homens em um carro jogaram ontem uma bomba artesanal contra o ônibus da linha 455 (Méier-Copacabana). A suspeita é que a ação atribuída a traficantes dos morros Pavão-Pavãozinho e Cantagalo tenha sido mais uma represália contra a futura instalação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Polícia Militar nas favelas para coibir o tráfico e uso de armas.
O veículo, cujo ponto final fica perto do local do ataque, não transportava passageiros. O motorista desceu e, com um extintor de incêndio, debelou o fogo. Apenas uma lanterna dianteira foi avariada, mas o estrondo levou pânico aos moradores do bairro.
Na terça-feira, outro ônibus foi incendiado na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Ninguém ficou ferido nos dois atentados. "Ouvi um barulho parecido com um tiro de canhão e corri. Não sou contra a pacificação da favela, mas é preciso garantir a segurança de quem mora no asfalto. Foi o segundo ataque em dois dias. É assustador", disse ontem o operador de turismo Sílvio Rangel.
Bope
Policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) apreenderam ontem pela manhã, no Morro do Cantagalo, quatro granadas, sete carregadores, uma bala calibre ponto 50, um radiotransmissor, um carimbo com a inscrição "Barack Obama PPG (Pavão-Pavãozinho Galo)", além de farta munição para fuzil, escopeta e carabina. Florisvaldo dos Santos Cardoso, 31 anos, que cumpria pena em regime semiaberto por roubo, foi detido porque tinha tatuado no braço direito o nome da facção criminosa que dominava a favela, o Comando Vermelho.
No asfalto, a PM levou oito menores suspeitos para a 13.ª Delegacia de Polícia de Copacabana. A Polícia Civil divulgou imagens feitas pelas câmeras do supermercado Zona Sul, que mostram o momento em que um rapaz de camisa e bermuda escuras com um boné azul incendeia, em menos de um minuto, um ônibus vazio, na tarde de terça. Segundo testemunhas, o pé direito dele chegou a ser atingido pelas chamas. Ninguém ficou ferido. Pouco depois do atentado contra o ônibus, policiais militares do 23.º BPM prenderam um homem com dois menores em Ipanema. Eles estavam com uma granada e quatro litros de gasolina.
Policiais do Bope afirmaram que os traficantes estariam em trechos isolados da mata que cerca as favelas e com dificuldades para obter alimentação e água. Segundo eles, os atentados visam deslocar os policiais para o asfalto e facilitar a fuga da quadrilha. "Ainda há armas e marginais escondidos nessas comunidades e a PM não irá recuar. Essas ações mostram o desespero do tráfico. A população nos ajuda com informações, como no caso das cinco armas apreendidas ontem (terça)", declarou o porta-voz da PM, capitão Ivan Blaz. Desde o início da ocupação, um traficante foi morto e cinco presos.