FORTALEZA - Nos últimos quatro anos, os casos confirmados de tráfico de seres humanos no Ceará pularam de três, em 2005, para 30 no ano passado. Este ano, o Escritório de Enfrentamento e Prevenção ao Tráfico de Seres Humanos e Assistência à Vítima (TSH) já recebeu 243 denúncias. Uma triagem está sendo feita para confirmar se todas são efetivamente casos de tráfico.
Segundo Eline Marques, coordenadora estadual do TSH, o tráfico interno representa cerca de 90% do total. Nos quatro anos de existência do escritório já houve confirmação de tráfico internacional. Operações em municípios cearenses como Quixadá, Quixeramobim, Morada Nova, Crato, Juazeiro do Norte e Mauriti resultaram na prisão de oito pessoas no ano passado. Para Eline, o grande número de denúncias este ano é resultado da divulgação e do trabalho preventivo que vem sendo feito desde o início de janeiro em hotéis, barracas de praia e no aeroporto de Fortaleza.
A coordenadora estadual do TSH lamenta que os acusados presos pelo crime consigam direito a responder em liberdade o processo por crime de tráfico de pessoas. No máximo, segundo ela, ficam presos por três meses. Dois casos emblemáticos envolveram um travesti que atuava no município de Quixadá e uma cafetina conhecida como Lady Laura, dona de uma das maiores casas de massagens de Juazeiro do Norte. A pena vai de 3 a 8 anos se não houver agravantes, como o tráfico de menores de idade.
Rede
Com o suporte da Agência Brasileira de Inteligência, o TSH constatou a existência de uma rede de traficantes de seres humanos com tentáculos até fora do estado. Eles se articularam para promover rodízios de garotas. O objetivo, segundo Eline Marques, coordenadora do TSH, é renovar a oferta para agradar os clientes. Uma dessas conexões começava por Fortaleza, passava por Juazeiro do Norte, Mossoró (RN) e cidades em Pernambuco, fechando o ciclo novamente na capital cearense. "É uma indústria", diz Eline Marques. O Escritório de Enfrentamento e Prevenção ao Tráfico de Seres Humanos e Assistência à Vítima, o único do Brasil, foi criado em 2005 e é vinculado à Secretaria estadual de Justiça e Cidadania (Sejus).