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Fronteira

Tráfico e contrabando mudam de rota

O pagode com Arlindo Cruz acontece na quinta | Reprodução www.tcvultura.com.br/bembrasil
O pagode com Arlindo Cruz acontece na quinta (Foto: Reprodução www.tcvultura.com.br/bembrasil)

Guaíra – A perigosa equação entre a falta de empregos e o aumento da oferta de oportunidade de trabalho no transporte ilegal de mercadorias, armas e drogas faz os índices de criminalidade crescerem em Guaíra, na Região Oeste do estado. Na cidade de aproximadamente 27 mil habitantes, situada na fronteira com Salto del Guairá, no Paraguai, ex-pescadores, ex-agricultores e jovens de até 18 anos passaram a sustentar a engrenagem do contrabando e contribuir para aumentar as estatísticas policiais.

Conforme levantamento da Polícia Federal (PF), somente este ano foram abertos 330 inquéritos em Guaíra, contra 430 no ano passado. Só de maconha, já foram apreendidas 9,6 toneladas em 2007, superando as 8,5 toneladas de todo ano passado. A projeção para este ano é dobrar o número de inquéritos em relação a 2006, segundo os policiais.

Os números comprovam o aumento da criminalidade na cidade, que passou a integrar o mapa das rotas do contrabando da Costa Oeste paranaense após a inauguração da nova aduana da Receita Federal (RF) de Foz do Iguaçu, em outubro do ano passado. Mas também evidenciam o forte trabalho de repressão da PF. Mesmo contando com um efetivo reduzido de 34 agentes e seis delegados para fiscalizar uma área de 140 quilômetros, na Costa Oeste do estado, a PF vem conseguindo desbancar uma rede de quadrilhas que não pára de se proliferar e arregimentar moradores. Na semana passada, a operação Rota Oeste prendeu 36 pessoas – sendo 13 policiais civis e militares – desarticulando duas quadrilhas especializadas em contrabando e tráfico de drogas e armas.

Quadrilhas

O delegado da PF, Marcelo Borsio, explica que a evolução da criminalidade em Guaíra é preocupante porque, depois de trabalhar para o tráfico já estabelecido, ex-pescadores e ex-agricultores acabam formando as próprias equipes e tornando-se chefes de quadrilhas. "Quem puxa cigarro, acaba puxando eletrônicos, informática e depois maconha. Aí ele mesmo cresce e começa a organizar seu próprio esquema, aumentando o número de quadrilhas. Eu costumo dizer que Guaíra é a nova Foz dos tempos antigos", diz. Borsio conta que o passo seguinte dos novos quadrilheiros é contratar adolescentes menores de 18 anos para transportar cargas. Assim, ao ficarem no posto de comando, os chefes não correm tanto risco de serem presos e os jovens, caso sejam apreendidos, passam meses encarcerados ou raramente pegam a pena máxima de três anos.

Os adolescentes e contrabandistas locais atuam na condição de olheiros – responsáveis por vigiar as áreas; mulas – que transportam drogas; ou laranjas – pessoas que carregam mercadorias ou disponibilizam barracões para guardar as cargas. Barcos, carros de luxo – para o trânsito de munições – e veículos velhos, cujo baixo custo não causa prejuízo ao proprietário, caso seja apreendido, são os principais meios de transporte de mercadorias ilegais, armas e drogas na região.

A PF conta com quatro lanchas para o patrulhamento do Lago de Itaipu. Em breve, a infra-estrutura deverá melhorar. Estão sendo aguardados mais 15 policiais e o início da construção da nova delegacia na cidade, prevista para começar em outubro deste ano, inspirada no prédio modelo feito em Foz do Iguaçu.

Rota paraguaia

A polícia brasileira alega que a pavimentação de uma estrada ligando os cerca de 250 quilômetros entre a região de Ciudad del Este, fronteira com Foz do Iguaçu, a Salto del Guairá, no ano passado, facilitou a migração de parte do contrabando de Foz do Iguaçu, para a Costa Oeste, incluíndo as cidades de Santa Helena, Pato Bragado e Entre Rios, além de Guaíra. A rodovia, localizada às margens do Lago de Itaipu no lado paraguaio, foi asfaltada logo após a inauguração da nova aduana em Foz.

Segundo a PF, as quadrilhas usam rotas específicas para fazer as mercadorias chegarem a Guaíra e serem distribuídas no lado brasileiro. Parte das cargas passa pelo Lago de Itaipu, chegando a Guaíra, onde a fronteira com o Paraguai é ligada por balsa. Lá a RF e PF fiscalizam os usuários da balsa logo que desembarcam no lado brasileiro. Uma lancha da Marinha apóia a fiscalização na área da Ponte Ayrton Senna, que une PR e MS.

Outras remessas são levadas com facilidade pela fronteira seca entre Salto del Guairá, no Paraguai, e Mundo Novo (MS). Em Mundo Novo, a aduana da RF, cuja nova estrutura foi inaugurada em outubro do ano passado, funciona apenas das 7 às 19 horas. Segundo o auditor fiscal Paulo Furtado, devido ao aumento do movimento na fronteira, já foi registrado também crescimento das apreensões de mercadorias, no entanto não há estatísticas precisas. O número insuficiente de servidores, um total de três, obriga a fiscalização ser feita por amostragem. Policiais do Departamento de Operações de Fronteira (DOP) da PM do MS apóiam a ação dos poucos fiscais. Mas durante a madrugada, a passagem fica livre para o crime por falta de efetivo fiscal e policial na fronteira sul-matogrossense.

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