Presos na operação Vale do Ivaí: quadrilha tinha apoio de três policiais civis| Foto: Ivan Maldonado / Tribuna do Norte

Ligações telefônicas auto­rizadas pela Justiça revelam o envolvimento de policiais no esquema. Em uma das gravações, dois traficantes (um deles já preso, chamado Elizeu, e outro citado no inquérito como Ademir) falam sobre um investigador da Polícia Civil ajudava na distribuição da droga:

Elizeu – Heim! Ele (policial envolvido) foi do que aí?

Ademir – Civil bicho! O cara chegou com uma (viatura) civil aqui... que eu vou falar pra você.

Elizeu – (risos)

Ademir – O cara me assustou, bicho.

Elizeu – Tava sozinho, né? Ou tava com outro maluco?

Ademir – Tava sozinho.

Elizeu – Sozinho. Não, ele vai mesmo, bicho.

Ademir – Ele é louco. Ele chegou com a (viatura) civil aqui que eu corri pra dentro do barraco pra esconder o flagrante, bicho.

Elizeu – (risos) Mais é gente boa, fica frio.

Ademir – Tô ligado!

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Maringá - Policiais civis e militares desmontaram ontem um esquema de distribuição de drogas que utilizava a estrutura da delegacia de Ivaiporã, na Região Central do estado, e viaturas da Polícia Civil para o transporte dos entorpecentes. Segundo o Ministério Público (MP) do Pa­­raná, a droga era comprada em Guaíra e Foz do Iguaçu e seguia diretamente para a carceragem da delegacia, onde estavam presos alguns dos líderes do grupo. Viaturas da Polícia Civil transportavam as drogas. O esquema, de acordo com o MP, tinha apoio de três investigadores e dois agentes da carceragem.

Cerca de 2 mil horas de gravações telefônicas comprovaram que o esquema era comandado de dentro da cadeia. Em uma dessas conversas, dois acusados de tráfico falam sobre o momento em que um investigador da Polícia Civil vai até um local marcado para buscar drogas dirigindo uma viatura. "Acreditamos que a quadrilha agia havia mais de um ano e era uma das maiores em atividade no Vale do Ivaí", afirmou o promotor de Justiça Marco Aurélio Romagnoli Tavares, responsável pelo caso.

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Prisões

A comarca de Ivaiporã expediu 102 mandados de prisão e 52 mandados de busca e apreensão; 36 pessoas foram detidas ontem pela manhã e outras 39 já estavam presas, totalizando 75 detidos. As demais são consideradas foragidas da Justiça. Em São João do Ivaí, a polícia apreendeu 12 munições calibre 22, seis galos de briga, R$ 955 em dinheiro, cheques preenchidos, três estojos calibre 38, um veículo GM Corsa com bloqueio judicial, um aparelho de celular, um revólver calibre 32, seis cartuchos calibre 32 e uma motocicleta. Em Ivaiporã os policias apreenderam 30 gramas de maconha e munições para fuzil calibre 762 e pistola calibre 45mm.

Um total de 144 policiais militares e 58 civis participam da ação, entre eles oito delegados. A operação teve apoio de agentes do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) e da Divisão Estadual de Narcóticos (Denarc). Os trabalhos foram concentrados em Ivaiporã, mas mandados foram cumpridos também nas cidades de Lidianópolis, Jardim Alegre, São João do Ivaí, Antonina, Londrina e Araucária.

Para Antonio Tadeu Rodrigues, presidente do Conselho de Segurança (Conseg) de Maringá, a importância desse tipo de operação é identificar um grande número de envolvidos, o que facilita a investigação das várias pontas do tráfico. "Há uma quebra no círculo vicioso do tráfico. Quando se identifica as pessoas envolvidas, a polícia aumenta o conhecimento sobre as rotas", afirmou. Para Rodrigues, o que assusta é a prisão de agentes da segurança pública. "Percebemos que não temos uma estrutura que leve à prisão de grandes traficantes. A pior coisa que pode acontecer é o envolvimento do funcionário público encarregado de combater essas ações", reiterou.

Também ontem, outras 27 pessoas foram presas na Operação Costa Oeste. As prisões foram feitas a partir da abordagem de 1.088 pessoas e 644 veículos, em 24 municípios da Região Oeste do estado.

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