Enquanto dormia na madrugada de ontem num dos 13 alojamentos do Educandário São Francisco (ESF), em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, o jovem Diego Brahion de Oliveira, 17 anos, foi assassinado. O matador foi um dos 11 adolescentes internados no mesmo alojamento onde Diego estava. Ele usou um pedaço de ferro para atingir o coração da vítima, que morreu na hora. Como não houve nenhum desentendimento anterior, a hipótese mais provável é que o crime tenha sido encomendado por traficantes.
A morte de Diego foi a oitava ocorrida desde o dia 24 de setembro do ano passado, quando sete adolescentes morreram durante uma rebelião no local. Atualmente, 140 adolescentes, com idade entre 14 e 20 anos, estão internados no ESF, que possui capacidade para abrigar 150 jovens.
Causa
Em três anos, 12 adolescentes foram mortos dentro de educandários em todo o estado. As mortes foram resultado de motins ou brigas entre grupos rivais. Já o assassinato de ontem, segundo o secretário de estado do Trabalho, Emprego e Promoção Social, Roque Zimmermann, provavelmente tenha sido encomendado por alguém de fora da instituição e que integra o crime organizado. "Apesar dele [Diego] não ter envolvimento direto com drogas, sabia muito sobre o mundo das drogas lá da Região Oeste", disse o secretário.
O jovem morto era de Cascavel, já cumpria pena no Serviço de Assistência Social (SAS) localizado naquele município e estava no ESF desde o dia 2 de setembro deste ano. Zimmermann preferiu não divulgar o crime cometido pelo adolescente. Em sua opinião, a morte do jovem foi um fato isolado e não há clima de conflitos e rebeliões dentro do educandário.
A namorada de Diego, a professora de música Andressa Arruda, 20 anos que também é de Cascavel, ficou chocada quando recebeu o telefonema do ESF informando da morte de seu namorado. "Ele veio para cá pra tentar se corrigir e acabou morrendo. Isto é muito triste", disse. Andressa declarou que sabe quem mandou matar Diego e acredita que o autor do crime não teve escolha. "Se ele não matasse, morreria também e é isso que me revolta", disse. Andressa estava há cerca de um ano com Diego, que é órfão e tem o irmão mais velho preso na Penitenciária Estadual de Piraquara (PEP).
O autor do homicídio foi identificado logo após a morte de Diego. Trata-se de um adolescente que ficava no mesmo alojamento e também era de Cascavel. Os outros dez jovens que se encontravam na mesma cela, segundo Zimmermann, viram o crime, mas não tentaram impedir e nem tiveram participação direta na morte de Diego "Parece que já era uma coisa que estava meio acertada entre eles", disse. De acordo com a diretora do ESF, Solimar Gouveia, o jovem suspeito de cometer o assassinato irá responder a processo e deverá ser transferido de local. "Temos de acertar ainda com o sistema um local para recebê-lo. Mas aqui ele não será aceito pelos outros internos, porque a sua atitude é considerada uma traição", afirmou.
Os outros adolescentes estão sendo submetidos a exames toxicológicos. Uma comissão de sindicância e a Polícia Civil estão investigando o crime e vão apurar se houve problemas na fiscalização.
O secretário admitiu que existem falhas no funcionamento do educandário e que pode ter havido negligência na fiscalização. "Nós estávamos pressionando para que não houvesse mais violência aqui dentro e daí houve um afrouxamento na fiscalização. Nós mudamos a cabeça da maioria dos educadores, mas tem um grupo que ainda acredita que a saída seja a volta do cacete e nós não toleramos mais isto", disse. Zimmermann sustenta esta hipótese de falha na fiscalização pelo fato de que os adolescentes infratores precisam passar por detectores de metais e por revistas antes de entrar nos alojamentos.
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