As inundações e os deslizamentos de terra na região serrana do Rio de Janeiro, que vitimaram pelo menos 900 pessoas no verão de 2011, colocaram o Brasil em posição de destaque mundial nas estatísticas de tragédias climáticas. O episódio foi o terceiro maior desastre natural em número de mortes entre os registrados no ano passado, ficando atrás apenas do terremoto seguido de tsunami no Japão, que totalizou 19.846 mortes em março, e das tempestades tropicais nas Filipinas em dezembro, com 1.430 mortes.
Os dados fazem parte de um levantamento da Estratégia Internacional para Redução de Desastres, órgão das Nações Unidas, e do Centro de Investigação sobre a Epidemiologia dos Desastres. O mapeamento divulgado em janeiro mostrou que 302 desastres naturais foram registrados em 2011 no mundo, provocando a morte de 29.782 pessoas e afetando 206 milhões. A quantidade de desastres é inferior à de 2010, que teve 373 ocorrências.
Apesar dessa queda, a tendência observada nos últimos 20 anos é de crescimento, analisa o diretor do Centro de Apoio Científico em Desastres da Universidade Federal do Paraná, Renato Eugênio de Lima. Ele aponta que a médio prazo existem países que vêm contabilizando cada vez mais prejuízos e vítimas, entre eles o Brasil. "Começamos a aparecer [na lista de países com mais mortes] há cerca de três a quatro anos. Agora, existe a necessidade de esforço nacional para reverter essa tendência", diz.
A tragédia no Rio é considerada a maior da história brasileira. No ano passado, o Brasil reportou seis desastres naturais significativos, ficando na nona posição entre os países com mais ocorrências, de acordo com o levantamento.
Preparo
O estudo destaca que países com renda média e alta registraram grandes catástrofes, apesar de terem mais recursos para melhorar os sistemas de prevenção. O Brasil, por exemplo, gasta 8,5 vezes mais em reconstrução do que em prevenção, de acordo com um levantamento da ONG Contas Abertas.
Falta no país um planejamento urbano para o crescimento ordenado das cidades, observa o professor de Geografia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Marcelo Motta. "As chuvas torrenciais são o único problema natural no Brasil e nós não sabemos lidar com ele", afirma, lembrando que o país está livre de outros desastres como terremotos, vulcões e furacões.
Para o engenheiro florestal e advogado Paulo de Tarso Lara Pires, pós-doutorando em Direito Ambiental e Desastres Naturais na Universidade de Berkeley, a população brasileira vem sofrendo com desastres naturais considerados de fácil solução, mas de grande impacto. Ele aponta que o Brasil começa a se preparar, mas sem uma política clara de prevenção. "No caso do Brasil, quanto maior o investimento público em obras de prevenção e quanto mais preparada estiver a população, menores serão os riscos de que esses eventos se transformem em desastres naturais."
R$ 16,2 bilhõesé a previsão de investimentos do governo federal, até 2015, na Gestão de Riscos e Resposta a Desastres, de acordo com o Plano Plurianual (PPA) aprovado pela presidente Dilma Rousseff. Estão previstos nos municípios mais críticos o mapeamento da suscetibilidade geológica-geotécnica, monitoramento da ocupação urbana e obras emergenciais em situações de risco iminente. Do total de recursos, R$ 3,5 bilhões devem ser investidos ainda neste ano.