Londrina Numa das piores crises da história da produção de soja provocada pela valorização do real frente ao dólar, o aumento dos custos de produção e a quebra na safra decorrente da seca e da ferrugem a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) revelou ontem um sinal de esperança: os testes com variedades tolerantes à seca apresentam bons resultados. Mas esta tecnologia só chegará às lavouras em um prazo entre cinco e dez anos.
A pesquisa, desenvolvida numa parceria entre a Unidade Soja da Embrapa, sediada em Londrina, e o Jircas (instituto de pesquisa agrícola do governo japonês), foi iniciada em 2003. Os cientistas introduziram na soja um gene chamado "Dreb" (iniciais, em inglês, para "proteína de resposta à desidratação celular"), pertencente a uma pequena erva daninha, a Arabidopsis thaliana, cujo genoma é 99% idêntico ao da soja. A patente desse gene pertence ao Jircas, que dedicou dez anos e cerca de US$ 10 milhões ao seu estudo.
"Os resultados são promissores. Conseguimos reduzir o abortamento de flores e prolongar a atividade biológica das células por até 30 dias, contra no máximo dez dias nas plantas convencionais", afirma o pesquisador Alexandre Nepomuceno, da Embrapa Soja, coordenador do projeto. A seca é mais danosa nas fases de florescimento e formação da vagem, reduzindo a produtividade da soja. Os resultados preliminares foram apresentados durante o 4.º Congresso Brasileiro de Soja, que se realiza em Londrina.
Nas últimas três safras, a falta de chuva provocou prejuízos de US$ 4,5 bilhões (quase R$ 10 bilhões) no Brasil. No Paraná, a quebra chegou a um quarto da produção, no ciclo 2004/2005, o mais grave. Para o agrometeorologista Eduardo Delgado Assad, da Embrapa, a tolerância à seca será fundamental nos próximos anos. "O efeito estufa fará subir a temperatura média em pelo menos 1 grau até 2020. Com isso, os veranicos serão mais danosos", prevê.
Até agosto, Nepomuceno pretende enviar o novo evento transgênico para aprovação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTN-Bio). Ele teme que a tecnologia demore a chegar ao produtor devido à provável lentidão na aprovação do pedido. Há hoje 538 processos na fila de espera do órgão. O cultivo comercial de transgênicos está liberado no Brasil desde o ano passado. Mas há apenas uma variedade de soja liberada: a Rondup Ready, resistente ao herbicida glifosato.
Ferrugem
Para tentar deter o avanço da ferrugem, os estados do Centro-Oeste estão proibindo seus produtores de cultivar soja irrigada no inverno. Naquela região, é comum a safrinha da soja, para a produção de sementes. O vazio sanitário está sendo imposto por 90 dias entre julho e setembro e tem o objetivo de impedir a sobrevivência do fungo que provoca a doença.
Desde sua chegada ao Brasil, em 2001, a ferrugem já provocou um prejuízo de US$ 7,8 bilhões (cerca de R$ 17 bilhões) aos sojicultores, segundo estimativa da Embrapa. Esse número inclui as perdas de produtividade e os custos de aplicação do fungicida. O problema se agrava ano a ano. Hoje, já são necessárias até sete aplicações por safra, contra apenas duas nas safras anteriores o que pode inviabilizar economicamente a cultura.
Segundo o pesquisador Carlos Arias, não há previsão de lançamento de variedades resistentes á ferrugem. Mas o programa de melhoramento da Embrapa trabalha com medidas para reduzir os danos, como a eliminação das variedades de ciclo mais longo e optando por aquelas que facilitem o manejo.
O jornalista viaja a convite da Embrapa Soja.