Número de procedimentos é baixo
O transplante de pulmão é recente no Brasil. A primeira cirurgia realizada no país e na América Latina foi em 16 de maio de 1989, também pela equipe da Santa Casa de Porto Alegre.
Embora o pulmão conste na lista do Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde, o número de transplantes é baixo, se comparado a procedimentos com outros órgãos, como coração e rins. Por ter contato direto com o ambiente externo, o pulmão se deteriora facilmente. Por isso, após ser retirado do doador, tem apenas seis horas para ser implantado no receptor.
Nos últimos 20 anos, 489 pacientes se submeteram ao transplante de pulmão no Brasil. Estima-se que ainda existam cerca de 125 pacientes à espera de um doador.
Apenas 10 hospitais brasileiros realizam o transplante de pulmão no Brasil. Os principais centros estão em São Paulo e no Rio de Janeiro. A Santa Casa de Porto Alegre, entretanto, é a única do país a realizar o transplante de pulmão intervivos. Além de Henrique Busnardo, outros 25 pacientes foram submetidos à cirurgia durante a última década.
Aos 8 anos de idade, o estudante curitibano Henrique Busnardo, hoje com 22, sofreu de uma pneumonia, causada por um vírus desconhecido, que o deixou com uma sequela grave: a bronquiolite, uma doença respiratória que provoca a inflamação dos bronquíolos, pequenos tubos que espalham o ar pelos pulmões.
A doença se agravou com o tempo e com 12 anos de idade, Henrique tinha apenas 12% de capacidade pulmonar e dependia do uso de oxigênio suplementar 24 horas por dia. A falta de ar era tanta que ele só conseguia dormir ajoelhado. A única chance de sobrevivência para o garoto seria se submeter a um transplante de pulmão.
O problema é que o pulmão, um dos órgãos mais delicados do corpo humano, só pode ser transplantado quando existe compatibilidade entre o tamanho da caixa torácica do doador e do receptor. "Considerando a improbabilidade de se conseguir um doador falecido de tamanho compatível com uma criança de 12 anos, foi proposta a técnica do transplante com doadores vivos, iniciada na Universidade da Califórnia em 1990", explica o cirurgião torácico José Camargo, que liderou a equipe da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, o primeiro hospital a realizar a técnica fora dos Estados Unidos.
A cirurgia, realizada em 17 de setembro de 1999, levou 5 horas e meia para ser concluída. A técnica envolve dois doadores, quase sempre da própria família. De um doador é retirado um pedaço geralmente o lobo inferior do pulmão esquerdo e do outro, um pedaço do pulmão direito. Em seguida, os lobos doados são implantados no lugar dos pulmões doentes, formando um novo órgão.
No caso de Henrique, os doadores foram os próprios pais: o economista Amadeu Busnardo, hoje com 64 anos, e a mulher Márcia, 57. "Pelo fato de os doadores serem da própria família, o risco de rejeição crônica é muito baixo e a expectativa de vida é maior do que quando a cirurgia é realizada com o órgão de doadores mortos", explica o médico gaúcho. Outra vantagem da cirurgia é que os lobos doados, mesmo maduros, crescem com a criança, devido ao efeito do hormônio de crescimento.
Hoje, tanto Henrique quanto os seus pais levam uma vida normal. "O nosso filho está completamente recuperado. Graças à cirurgia, teve uma adolescência ativa e saudável. Nós também passamos muito bem. A doação de parte do pulmão não nos causou nenhum desconforto, pelo contrário. Ficamos felizes por poder salvar a vida do Henrique e de saber que a nossa experiência ajudou a salvar outras crianças com o mesmo problema", conta Amadeu.
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