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Transplantes refletem desigualdades

Veja o número de transplantes de acordo com cor ou raça |
Veja o número de transplantes de acordo com cor ou raça (Foto: )
Amâncio e o irmão Beneilton, que doou um rim para ele: transplante intervivos |

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Amâncio e o irmão Beneilton, que doou um rim para ele: transplante intervivos

A desigualdade racial e de gênero também chega às salas de cirurgias de transplantes no Brasil, segundo pesquisa inédita feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base em dados de 1995 a 2004 fornecidos pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). Apesar de as doenças do aparelho circulatório causarem mais mortes entre negros (32,95%) e pardos (27,06%) do que em brancos (30,60%), esse último grupo tem acesso a mais da metade dos transplantes de coração (56%). Apenas 10% de pacientes negros aparecem entre os transplantados. Além disso, de cada quatro receptores de coração, três são homens. Em procedimentos de recepção de fígado, oito em cada dez são feitos em pessoas brancas. Cerca de 40% da população negra e parda no país morre por doenças como fibrose e cirrose de fígado. No transplante de fígado, 63% são homens e 37% mulheres.Segundo Alexandre Marinho, da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, quem depende exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) – cerca de três quatros da população brasileira – sai em desvantagem, porque tem dificuldade para receber remédios, fazer consultas e exames clínicos. "A situação onera quem tem menos condições de buscar alternativas", diz. Ma­rinho critica o SUS devido à restrição do acesso aos seus serviços: "Na hora que funciona, quem se apropria são as pessoas mais bem posicionadas", diz.

No entanto, ainda que os números soem alarmantes do ponto de vista da discussão racial, o chefe do serviço de transplante hepático do Hospital de Clínicas de Curitiba, Julio Coelho, reforça o fato de que o acesso à recepção de órgãos deve ser estendido a um ponto de vista de desigualdades também sociais.

Segundo ele, a busca por assistência médica envolve a disponibilidade dos pacientes de procurar o serviço de saúde e encontrar locais que possam atendê-los diante da gravidade da situação. "É preciso levar em conta o fato de que a maior concentração de negros está no Nordeste, onde a taxa de transplantes é baixa. Cerca de 80% dos transplantes realizados no Brasil estão no Sul e no Sudeste", explica o médico, que assinala não haver diferença no atendimento do ponto de vista racial. Quando um paciente procura o serviço de transplantes ele é inscrito em uma fila e exames laboratoriais definem o índice de gravidade do caso. "Não existe influência subjetiva na distribuição de órgãos, tudo é controlado pela central de transplantes. Tem preferência aquele que precisa com mais urgência", esclarece Coelho.

Sem distinção

De acordo com o diretor técnico dos transplantes de fígado, pâncreas/rim do Hospital Angelina Caron, Matheus Martin Macri, cerca de 90% dos transplantes – procedimentos considerados de alta complexidade – são realizados pelo SUS, independentemente de cor ou gênero do paciente. Há quatro meses, ele realizou pelo SUS a cirurgia de Amâncio da Silva, que perdeu as funções do rim devido a uma nefrite. "Há um ano soube que deveria fazer um transplante, senão iria para a hemodiálise. Quatro irmãos se reuniram para ver quem doaria, e o mais jovem foi o escolhido", diz Amâncio.

No dia a dia do centro cirúrgico, Matheus observa um maior fluxo de pacientes brancos, justificado por ele também por serem mais esclarecidos em relação aos serviços de saúde. "Não existem filtros, a questão do acesso à saúde no Brasil é cultural e social", explica o médico.

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