A rotina profissional alterada por uma grave depressão. Assim têm sido os últimos sete anos da professora do ensino público fundamental G.H., 41 anos. Desde 1998 ela está longe da missão de educar e alterna períodos de crise da doença, submissão a cirurgias e retornos ao trabalho. "Tenho saudades, mas ainda não me sinto segura para voltar à sala de aula", relata.

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No magistério desde 1984, G.H. descobriu sofrer de depressão em 1998. Um fator externo à sala de aula, somado à pressão que recebia por trabalhar em dois turnos seguidos, desencadearam a doença. "Meu marido ficou muito doente e eu não agüentei. Tinha de cuidar de tudo sozinha."

Por indicação médica, a professora mudou de função. "A sobrecarga de alunos é muito grande. E quando você não está bem psicologicamente, fica sem paciência e inseguro para lidar com eles." G.H. ainda atua na área educacional, mas como atendente de biblioteca. "Sei que não foi para isto que estudei. Eu quero voltar e estou me preparando para isto", comenta a professora.

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O drama de G.H. não é único entre os cerca de 56 mil professores do estado e mais de 7 mil de Curitiba. Transtornos mentais (depressão, ansiedade, síndrome do pânico e bipolaridade) estão entre os que mais tiram os docentes das salas de aula. Na rede estadual foram 2.651 licenças até junho (27% do total de 9.750 afastamentos solicitados neste ano). Já no município foram 740 pelo mesmo motivo até agosto (18% do total de 4.120 licenças tiradas por professores no período).

Estresse

Um dos motivos de tantos casos de transtornos mentais entre professores é o estresse do cotidiano profissional, segundo o psiquiatra Salmo Zugman, do Hospital de Clínicas (HC) do Paraná. "O estresse é um fator de vulnerabilidade e o grande desencadeador destes casos", atesta. De acordo com o psiquiatra, situações específicas de estresse vividas por professores durante suas atividades devem ser levadas em conta. "Os pacientes que são professores em geral se queixam das condições de trabalho oferecidas", argumenta.

Já o médico e diretor do Departamento de Saúde Ocupacional da Secretaria Municipal de Recursos Humanos de Curitiba, Edevar Daniel, ressalta que a saúde mental de um indivíduo é multifatorial. "Não é só o ambiente que causa o estresse. É o dia-a-dia, é a casa, é o marido, enfim, uma série de fatores", compara.

Porém Zugman ressalta que não há como generalizar. Hereditariedade e a tendência que o próprio indivíduo possui para enfrentar as mais diferentes situações devem ser consideradas. "Do mesmo jeito que a gente leva os problemas de casa para o trabalho, também pode ocorrer o inverso", ressalta Zugman.

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O Departamento de Saúde Ocupacional da Secretaria Municipal de Recursos Humanos de Curitiba desenvolve programas de prevenção a doenças mentais. Entre eles, um é aplicado somente na área de educação. O programa "Um Olhar Sobre Si Mesmo" desenvolve palestras, vivências e dinâmicas de grupo para professores que já passaram ou estão passando por transtornos relacionado à saúde mental.

Já o governo do estado informa não ter programas específicos de prevenção a patologias mentais. A aposta da Secretaria de Estado da Educação está em projetos gerais, como o aumento na remuneração e a aprovação do Plano de Cargos e Salários dos professores.

* Serviço: Se você é professor ou conhece alguém que seja, deixe a sua opinião sobre as causas de tantos problemas de saúde estarem atingindo os professores e os tirando da sala de aula. Para participar basta acessar o: www.ondarpc.com.br/interativo/forum.phtml.