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Deborah Persaud, virologista da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore (EUA), que apresentou as conclusões sobre o caso de Mississipi na Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas, em Atlanta | Handout/ Reuters
Deborah Persaud, virologista da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore (EUA), que apresentou as conclusões sobre o caso de Mississipi na Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas, em Atlanta| Foto: Handout/ Reuters

Sem comprovação

Cientistas pedem cautela antes de comemorar o resultado de Mississipi

Apesar de ter recebido com entusiasmo a notícia da cura do bebê de Mississipi, cientistas de todo o mundo pedem cautela antes de comemorar os resultados. O trabalho ainda não foi publicado em nenhuma revista especializada e não passou pela chamada revisão por pares, quando os dados de um estudo são esmiuçados por cientistas independentes.

O diretor-executivo do Programa Conjunto da ONU para o HIV/Aids, Michel Sidibé, disse que a notícia "dá grande esperança de que uma cura para o HIV em crianças é possível", mas também indica a necessidade de mais pesquisa e inovação, "especialmente na área do diagnóstico precoce".

Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA, afirmou que o caso é uma importante "prova de conceito", mas alertou que precisa ser ainda mais validado. "A verdadeira pergunta é se isso poderá ser amplamente aplicado a outros bebês", afirmou

Pioneiro

O norte-americano Timothy Brown, que acabou ficando conhecido como "o paciente de Berlim", é considerado o primeiro caso de cura do HIV. O método usado, no entanto, foi completamente diferente do bebê, ficando conhecido como cura por esterilização. Soropositivo, ele tomava o coquetel contra o HIV quando foi diagnosticado com leucemia. Passou por uma agressiva quimioterapia que "matou" sua medula antiga. No lugar, ele recebeu um transplante com células-tronco de um doador com uma mutação genética que o tornava naturalmente resistente à contaminação pelo HIV. Depois da cirurgia, realizada na capital alemã, o vírus não voltou a se replicar.

Um bebê do Mississippi que nasceu com aids foi curado com a terapia básica contra o vírus, aplicada em estágio bastante inicial, em um caso potencialmente histórico e que pode levar a importantes descobertas sobre a erradicação da infecção pelo HIV entre as vítimas mais jovens.

Esse é o primeiro caso conhecido de um bebê que chega à chamada cura funcional, um fato raro, no qual a pessoa obtém a remissão da doença, sem mais necessidade de medicamentos, e em que os exames de sangue comuns não demonstram sinais de que o vírus esteja se replicando. "Esta é uma prova do conceito de que o HIV pode ser potencialmente curável em bebês", disse Deborah Persaud, virologista da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore (EUA), que apresentou as conclusões na Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas, em Atlanta.

O caso do bebê do Missis­­sippi, do sexo feminino, envolveu o uso de um coquetel de drogas amplamente disponíveis, já usado no tratamento da infecção pelo HIV em bebês. Quando a menina nasceu, em um hospital rural, sua mãe havia acabado de ter um diagnóstico de infecção por HIV. Como ela não havia recebido tratamento pré-natal contra o vírus, os médicos sabiam que a menina nasceria com alto risco de contaminação. Por isso transferiram a recém-nascida para o Centro Médico da Universidade do Mississippi, em Jackson, onde ela foi tratada por Hannay Gay, especialista em HIV pediátrico. Com apenas 30 horas de idade – antes mesmo que os exames de laboratório confirmassem a contaminação –, o bebê passou a receber o coquetel com três medicamentos básicos para o combate ao HIV.

Reservatórios virais

Pesquisadores acreditam que o uso antecipado do tratamento antiviral provavelmente resultou na cura do bebê ao impedir a formação dos chamados "reservatórios virais", que ficam dormentes e não são acessíveis para os medicamentos habituais. Esses reservatórios fazem com que a infecção volte em pacientes que interrompem o tratamento, e são a razão pela qual a maioria dos soropositivos precisa tomar remédios pelo resto da vida.

Após o início do tratamento, o sistema imunológico do bebê reagiu bem, e os exames mostraram uma redução gradual da carga viral, até que ela se tornasse indetectável 29 dias depois do parto. O bebê recebeu tratamento regular por 18 meses, mas aí parou de ir às consultas e ficou sem tomar os remédios durante cerca de dez meses. Quando a menina finalmente voltou ao hospital, os exames surpreenderam a equipe médica, por mostrar que o vírus não havia se reinstalado. "Àquela altura, eu sabia que estava lidando com um caso muito excepcional", disse Gay. Hoje, a menina está com 2 anos e meio de idade.

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