Sem comprovação
Cientistas pedem cautela antes de comemorar o resultado de Mississipi
Apesar de ter recebido com entusiasmo a notícia da cura do bebê de Mississipi, cientistas de todo o mundo pedem cautela antes de comemorar os resultados. O trabalho ainda não foi publicado em nenhuma revista especializada e não passou pela chamada revisão por pares, quando os dados de um estudo são esmiuçados por cientistas independentes.
O diretor-executivo do Programa Conjunto da ONU para o HIV/Aids, Michel Sidibé, disse que a notícia "dá grande esperança de que uma cura para o HIV em crianças é possível", mas também indica a necessidade de mais pesquisa e inovação, "especialmente na área do diagnóstico precoce".
Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA, afirmou que o caso é uma importante "prova de conceito", mas alertou que precisa ser ainda mais validado. "A verdadeira pergunta é se isso poderá ser amplamente aplicado a outros bebês", afirmou
Pioneiro
O norte-americano Timothy Brown, que acabou ficando conhecido como "o paciente de Berlim", é considerado o primeiro caso de cura do HIV. O método usado, no entanto, foi completamente diferente do bebê, ficando conhecido como cura por esterilização. Soropositivo, ele tomava o coquetel contra o HIV quando foi diagnosticado com leucemia. Passou por uma agressiva quimioterapia que "matou" sua medula antiga. No lugar, ele recebeu um transplante com células-tronco de um doador com uma mutação genética que o tornava naturalmente resistente à contaminação pelo HIV. Depois da cirurgia, realizada na capital alemã, o vírus não voltou a se replicar.
Um bebê do Mississippi que nasceu com aids foi curado com a terapia básica contra o vírus, aplicada em estágio bastante inicial, em um caso potencialmente histórico e que pode levar a importantes descobertas sobre a erradicação da infecção pelo HIV entre as vítimas mais jovens.
Esse é o primeiro caso conhecido de um bebê que chega à chamada cura funcional, um fato raro, no qual a pessoa obtém a remissão da doença, sem mais necessidade de medicamentos, e em que os exames de sangue comuns não demonstram sinais de que o vírus esteja se replicando. "Esta é uma prova do conceito de que o HIV pode ser potencialmente curável em bebês", disse Deborah Persaud, virologista da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore (EUA), que apresentou as conclusões na Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas, em Atlanta.
O caso do bebê do Mississippi, do sexo feminino, envolveu o uso de um coquetel de drogas amplamente disponíveis, já usado no tratamento da infecção pelo HIV em bebês. Quando a menina nasceu, em um hospital rural, sua mãe havia acabado de ter um diagnóstico de infecção por HIV. Como ela não havia recebido tratamento pré-natal contra o vírus, os médicos sabiam que a menina nasceria com alto risco de contaminação. Por isso transferiram a recém-nascida para o Centro Médico da Universidade do Mississippi, em Jackson, onde ela foi tratada por Hannay Gay, especialista em HIV pediátrico. Com apenas 30 horas de idade antes mesmo que os exames de laboratório confirmassem a contaminação , o bebê passou a receber o coquetel com três medicamentos básicos para o combate ao HIV.
Reservatórios virais
Pesquisadores acreditam que o uso antecipado do tratamento antiviral provavelmente resultou na cura do bebê ao impedir a formação dos chamados "reservatórios virais", que ficam dormentes e não são acessíveis para os medicamentos habituais. Esses reservatórios fazem com que a infecção volte em pacientes que interrompem o tratamento, e são a razão pela qual a maioria dos soropositivos precisa tomar remédios pelo resto da vida.
Após o início do tratamento, o sistema imunológico do bebê reagiu bem, e os exames mostraram uma redução gradual da carga viral, até que ela se tornasse indetectável 29 dias depois do parto. O bebê recebeu tratamento regular por 18 meses, mas aí parou de ir às consultas e ficou sem tomar os remédios durante cerca de dez meses. Quando a menina finalmente voltou ao hospital, os exames surpreenderam a equipe médica, por mostrar que o vírus não havia se reinstalado. "Àquela altura, eu sabia que estava lidando com um caso muito excepcional", disse Gay. Hoje, a menina está com 2 anos e meio de idade.
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