Há alguns dias, um oficial do Corpo de Bombeiros em Curitiba ficou surpreso ao encontrar um inusitado objeto esquecido no vestiário. Era só um batom, mas chamou atenção. É o tipo de coisa que reflete a mudança que, pouco a pouco, já começa a ser sentida na corporação. Pelo menos na unidade de ensino em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, o quartel ganhou "outros ares".
Rosto maquiado, lábios pintados, o cabelo arrumado, brincos e anéis. Foi assim que a reportagem encontrou as alunas durante o treinamento esta semana. Tudo muito discreto, é verdade. Mesmo porque jóias e bijuterias muito grandes são proibidas, pois podem causar ferimentos. Ainda assim, elas aprenderam a não abrir mão da vaidade e certos costumes femininos. "As meninas saem da educação física e já estão se maquiando. De um lugar para outro é sempre uma sessão se maquiagem", conta a aluna Simone Aparecida dos Santos.
A presença das moças também exigiu mudanças por parte do comando do Corpo de Bombeiros. A unidade de ensino não estava preparada para receber alunas mulheres. Foi necessário separar alojamentos e vestiários com espelho, é claro, bastante disputado.
Além disso, a corporação ainda está encomendando novos equipamentos. Com relação ao vestuário, por exemplo, as meninas estão usando as mesmas fardas, botas e capacetes utilizados pelos homens. O problema é que nenhum aluno que passou por lá calçava o número 34, por exemplo. As menores numerações encontradas são 37 e 38. Enquanto as novas botas sem salto alto não chegam, as alunas estão compensando o tamanho dos pés usando duas ou mais meias.
Para ajudar as bombeiros (e também os instrutores) foi "emprestada" uma oficial da Polícia Militar. Além de colaborar no treinamento, ela dá dicas às alunas de como se adaptar às novidades "sem perder a pose", como usar luvas para não estragar as unhas, por exemplo. Ela também faz considerações sobre algumas mudanças na farda e nos equipamentos. Mas com exceção do tamanho das botas, pouca coisa irá mudar.
O tenente Eduardo Gomes Pinheiro, relações públicas da corporação, acredita que a novidade também vai exigir mudanças quanto ao comportamento dos soldados e oficiais. A diferença já foi sentida pelo instrutor Mário Schoemberger. "Elas são bem mais sensíveis às críticas que os homens. Temos de ter mais cuidado, até no linguajar", conta.
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