Um mês após a tragédia das chuvas que deixou três mortos e muitos estragos no litoral do Paraná, Morretes voltou a receber o trem de passageiros que faz o trajeto entre Curitiba e Paranaguá. A retomada do serviço era esperada com ansiedade pelo setor turístico e pôde ser resumida na alegria da comerciante Edenilda Gomes, que há quatro anos vende balas de gengibre e banana na estação ferroviária: "Sem trem, não há trabalho", diz. Mesmo sem clientes, ela teve de gastar R$ 110 com o aluguel da sala onde guarda mercadorias. "Estava no prejuízo."
De acordo com a concessionária Serra Verde Express, os 12 vagões estavam ocupados. Entre os 600 passageiros que desceram ao litoral, pelo menos 70% ficaram em Morretes, vindos de estados como Santa Catarina, São Paulo e Bahia, além de países como França e Espanha.
Muita gente esperava encontrar um "cenário de destruição", mas foi surpreendida pelo tempo bom e sem chuva. "Vim aqui há mais de dez anos, e adorei. Vi pela televisão todo aquele estrago e fiquei triste. Quando soube que dava pra vir, que o trem estava liberado, não perdi tempo", diz a dona de casa paulistana Stela Coralate, que passou o dia na cidade ao lado de mais 40 colegas, todos da capital paulista.
Já as amigas Marlen Tavares e Vivian Manoela, de Itabuna e Salvador, na Bahia, não sabiam que um mês antes a cidade havia sido afetada com tanta intensidade a ponto de decretar estado de calamidade pública. "Estou em Curitiba a trabalho e fiquei sabendo do passeio. Descobri que a Vivian já tinha feito e fiz o convite para que ela fosse minha guia. Não imaginava que tinha acontecido isso", diz Marlen.
À espera
Com o restabelecimento do serviço pela Serra Verde Express na quarta-feira, muitos comerciantes receberam os clientes pela primeira vez desde a tragédia. "No período logo após a chuva, o movimento caiu para zero. Foi bom o serviço ter voltado, pois, sem trem, Morretes morre", afirma a comerciante Nilda Alves Abrantes, que vende artesanatos há oito anos.
Pelo menos até o fim do mês os restaurantes e pousadas vão adotar a campanha "Morretes em dobro". Quem vai ao restaurante acompanhado paga apenas uma refeição, e quem aluga um quarto em hotel ou pousada por dois dias paga apenas uma diária. Embora não tenha sido muito divulgada, a ideia do comércio e da prefeitura agradou.
Quem saiu ganhando foi a família de Pedro Schapieski, de São José dos Pinhais, que foi de carro a Morretes de carro com 18 pessoas da família. Após visitar um amigo na área rural, a mais atingida, Schapieski acreditava que iria encontrar o centro destruído e o comércio ainda debilitado. No final do dia, aproveitava o tempo bom à beira do rio, após quase 10 anos sem ir à cidade. "Vi na televisão que eles estavam precisando de uma força do turista. Vamos voltar outras vezes", diz.
A administradora Maria Teresa Dias Flores, de Curitiba, ganhou um passeio de trem e trouxe o marido, a mãe, a irmã e duas filhas. Pensou que gastaria em restaurantes o que economizou na viagem, mas se surpreendeu. "Acabamos gastando a metade. Imaginei que ainda estaria bem desorganizado, tive uma surpresa", diz. O funcionário do restaurante Madaloso, Jeferson Manso, diz que a volta do turista ajuda a afastar o receio e mostra que a cidade está se esforçando para se recuperar. "É muito importante que as pessoas venham, de trem ou de carro. Temos condições de atendê-las", garante.
Com o restabelecimento do serviço, a expectativa de comerciantes e prestadores de serviço é de que o turista comece a voltar aos poucos. O proprietário da operadora de turismo Calango Expedições, Celso Maceno, diz que o turista que chega à cidade de trem dá mais retorno ao município. "Todos os turistas são importantes para nós, mas aquele que vem de trem geralmente compra pacotes turísticos, com passeios de barco e viagens para outras cidades, movimentando mais o setor", explica.
Agora, o desafio é não apenas trazer o turista para cidade, mas mantê-lo por lá pelo menos mais de um dia, já que os hotéis e pousadas continuam reclamando do movimento, que diminuiu 90% após o desastre. Em muitos, os poucos hóspedes são funcionários de empresas que trabalham na reconstrução de alguns setores, mas o turista, que procura o lazer, ainda não voltou a aparecer. "Estamos aguardando. A esperança é que as pessoas comecem a aparecer, vejam que não há perigo de pernoitar e voltem, trazendo mais gente", diz a recepcionista da pousada Tia Luiza, Angélica Francisco de Almeida.
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