Tarifa: R$ 199 na classe econômica
Os estudos da consultoria Halcrow, contratada pelo governo para estudar o Trem de Alta Velocidade (TAV), mostram que, em 2024, 50 milhões de pessoas vão usar o trem no trecho Rio-São Paulo.
O problema é que não existe garantia de que esses números se tornarão realidade no futuro, criticam especialistas.
A tarifa na classe econômica para uma viagem entre Rio e São Paulo será equivalente a R$ 199. Hoje o consumidor pode conseguir comprar uma passagem aérea entre as duas cidades por R$ 250, ida e volta. O benefício do TAV é não ter de passar pelo demorado processo de embarque e desembarque aéreo. O passageiro pode chegar cinco minutos antes de o trem partir.
De acordo com as determinações do Tribunal de Contas da União (TCU), o tempo total gasto pelo passageiro numa viagem no trem-bala não poderá ultrapassar 1 hora e 33 minutos. Apesar de a viagem de avião entre o Rio e São Paulo ser de apenas 55 minutos, o embarque e desembarque eleva o tempo para 1 hora e 50 minutos, segundo a Halcrow.
São Paulo - Tão complexo e polêmico quanto a Hidrelétrica de Belo Monte, o trem-bala entre São Paulo e Rio de Janeiro ainda é um grande enigma. Embora o edital com as condições do empreendimento já esteja na praça, ninguém consegue dizer ao certo quanto vai custar a obra, qual será o traçado da ferrovia e qual a demanda existente.
Junta-se a essa lista a dúvida dos críticos em relação aos benefícios que a obra trará para a sociedade, já que boa parte dos R$ 33,1 bilhões previstos para o projeto será financiada pelo Tesouro Nacional e terá participação societária do Estado.
Cálculos feitos pelo Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos) mostram que o investimento seria suficiente para construir 300 quilômetros de metrô em São Paulo (cinco vezes a malha da cidade hoje, de 62,3 km), que transportaria 15 milhões de pessoas por dia. O valor também daria para construir 11 mil km de ferrovias comuns. "Até agora não conseguimos responder se vale a pena ou não construir um Trem de Alta Velocidade (TAV)", afirma o presidente do Ilos, Paulo Fleury. Na avaliação dele, a principal justificativa do governo para construir o trem-bala já caiu por terra: o projeto não ficará pronto para a Copa do Mundo de 2014 nem para os Jogos Olímpicos de 2016. O cronograma oficial estipula 2017 para que a obra seja concluída. Portanto, não daria para desafogar a ponte aérea Rio-São Paulo a tempo.
Demora
Alguns exemplos no mundo mostram que até mesmo esse cronograma pode não ser viável para tirar a obra do papel. O TAV coreano, um dos principais interessados no projeto brasileiro, demorou 11 anos para ser concluído. Por aqui, um dos maiores embates deve ficar por conta do licenciamento ambiental. O trem-bala passa pela Serra das Araras e poderá enfrentar resistência por parte dos ambientalistas, como tem ocorrido nas últimas obras de infraestrutura.
"Mas não fizeram a nova Imigrantes, na Serra do Mar, por meio de túneis? Então não teremos problemas", afirma o presidente da Estação da Luz Participações (EDLP), Guilherme Quintella, que está formando um fundo para disputar o leilão, marcado para dezembro. O diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo, completa que o traçado referencial (constante no edital) foi feito em conjunto com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), que já definiu áreas que não podem ser usadas.
Ele completa que os estudos de impacto ambiental começarão a ser contratados em agosto. "Algumas coisas já podem ser adiantadas sem saber o traçado definido pelo vencedor do leilão." A expectativa é de que a licença prévia saia no começo do ano que vem. Mas, pela experiência das últimas obras de infraestrutura, não é difícil o processo se complicar.
Outro ponto de interrogação é o valor da obra. Começou com algo em torno de R$ 24 bilhões, subiu para R$ 34,6 bilhões e foi fixado em R$ 33,1 bilhões pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Agora já há investidores que calculam que a obra fique, pelo menos, 30% mais cara que a prevista no edital. Outros, mais radicais, apostam em R$ 50 bilhões ou até R$ 60 bilhões.
Custos
Essa mudança pode ocorrer especialmente porque o governo não fez todas as sondagens geológicas necessárias, conforme o relatório do TCU. No mundo, a situação não é muito diferente. Um exemplo de como os custos podem estourar é o famoso trem-bala que liga a França à Inglaterra, atravessando o Canal da Mancha por um túnel. A obra foi orçada em US$ 9 bilhões, mas custou US$ 19 bilhões. A empresa que administra a ferrovia até hoje luta para não ir à bancarrota.
Figueiredo, da ANTT, diz que as sondagens feitas na área onde será construído o trem-bala são obrigação das empresas que vão construir a obra. Além disso, o valor do investimento é um risco do empreendedor e não terá impacto para o governo. No mercado, as empresas concordam que esse é um risco do investidor. Por isso, todas correm contra o tempo para concluir seus estudos antes da apresentação das propostas, em novembro.
Demanda
A demanda tem sido tão forte que têm faltado empresas de sondagens de solo no mercado para serem contratadas. O resultado, se o valor da obra ficar muito acima do previsto, é que a iniciativa privada não vai dar seus lances. Mas, como essa é uma obra prioritária para o governo, é possível que haja algum arranjo, a exemplo de Belo Monte, para viabilizar o projeto.
Hoje há cinco consórcios sendo formados para disputar o empreendimento: o sul-coreano, o japonês, o chinês, o espanhol e o francês. Nas últimas semanas, além de intensificarem os estudos sobre o trajeto, eles também reforçaram a busca por parceiros. Por enquanto, as empreiteiras brasileiras estão tímidas nesse processo. Elas temem que as previsões de demanda não se concretizem.
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