O saldo da reintegração de posse em um terreno invadido no bairro Fazendinha, nesta quinta-feira (23), em Curitiba, foi de três pessoas presas e ao menos quatro feridas. Entre os machucados está um menino de 8 anos, que teve uma queimadura na perna. Duas pessoas foram presas por porte ilegal de armas e uma por desacato à autoridade. OAB Paraná abriu um processo administrativo para apurar a ação.
"A operação foi melhor do que imaginávamos, houve apenas um início de confronto", afirmou o coronel Carlos Alexandre Scheremeta, Comandante do Policiamento da Capital (CPC). A Polícia Militar (PM) continua no local, acompanhando a reintegração de posse do terreno. Algumas famílias ainda retiravam os pertences do local por volta das 16h30, mas, de acordo com o coronel, "a reintegração corre de forma pacífica". O comandante garantiu que a PM vai ficar no local até que a área esteja totalmente desocupada.
"É um processo lento (a reintegração), mas temos toda uma logística para atender a situação. Vamos continuar lá até o último ocupante sair", afirmou Scheremeta. A polícia acredita que isso deva acontecer até sábado (25). "Acreditamos que até amanhã (sexta-feira, 24) a situação de reintegração esteja bem avançada", disse o comandante.
Clima tenso
Durante a manhã, a situação ficou tensa no início da reintegração de posse. Os ocupantes montaram uma barreira com pneus queimados e fecharam toda a entrada do terreno pelas ruas João Dembinski e Mário José Zancanaro. Mulheres e crianças ficaram paradas logo em frente ao bloqueio. Moradores da ocupação afirmam que iniciaram a montagem das barreiras porque perto das 5h duas viaturas da Ronda Ostensiva Tático Móvel (Rotam) teriam passado pelo local.
A PM usou balas de borracha e bombas de efeito moral para dispersar os manifestantes. Pelo menos quatro pessoas ficaram feridas, queimadas ou atingidas por balas de borracha, entre elas um cinegrafista de televisão e uma criança de 8 anos, que sofreu uma queimadura na perna. Ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) estiveram no local para o socorro. O menino foi levado para o Hospital Evangélico, onde recebeu atendimento. Ele teve alta por volta do meio-dia. A criança foi levada ao hospital junto com uma mulher, de 38 anos, que levou um tiro de bala de borracha no tornozelo. A mulher também já recebeu alta.
De acordo com a coordenadora da União Nacional por Moradia Popular, Maria das Graças, por volta das 16 horas ainda havia bastante gente no terreno invadido. Ela não soube explicar para onde as pessoas estão indo após deixarem o terreno. Segundo o comandante Scheremeta, muitos que estavam no local já têm cadastro junto a Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab). O comandante disse, porém, que alguns dos invasores foram cooptados por empresários da região para participarem da ocupação.
"Há especulação imobiliária, a área é boa e algumas pessoas tentaram tirar proveito disso", explicou. A polícia vai manter uma vigilância sobre o terreno, que é de propriedade da empresa Varuna Empreendimentos Imobiliários. "A empresa já tomou medidas para cercar o ambiente", definiu Scheremeta. Aproximadamente 1.200 policiais participaram da reintegração de posse pela manhã.
Investigação
A Comissão de Direitos Humanos da OAB Paraná abriu um processo administrativo para apurar todos os fatos, desde a ocupação da área no Fazendinha, até a reintegração de posse desta quinta-feira (23). Representantes das famílias sem-teto devem ser chamados a prestar depoimentos na OAB.
"A OAB vai fazer todas as verificações possíveis e exigir das autoridades as providências necessárias para resolver esse grave problema social", disse Cléverson Marinho Teixeira, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, por meio de nota oficial.
Invasão
No dia 6 de setembro, cerca de 600 famílias ocuparam e montaram barracas no terreno. Dez dias depois, a invasão já contava com aproximadamente 1,5 mil famílias, ou cerca de 6 mil pessoas. O local também ganhou ligações irregulares de energia elétrica, pequenas casas de madeira e até um escritório de advocacia.
A Varuna conseguiu, no dia 15 de setembro, uma ordem de reintegração de posse da área de aproximadamente 170 mil metros quadrados. A juíza Julia Maria Tesseroli determinou um prazo de cinco dias para que todos os acampados se retirassem voluntariamente do terreno, mas a ordem não foi cumprida. Com isso, a Justiça deu ordem para reintegração de posse.