Três pessoas que foram presas por participação nos atos de vandalismo no fim da manifestação que reuniu cerca de 100 mil pessoas no Centro do Rio nesta segunda-feira foram levadas para o Complexo Penitenciário de Bangu, na Zona Oeste da Rio. Dois homens foram encaminhados para Bangu 2 e uma estudante da Universidade Federal Fluminense (UFF), para Bangu 8. Os três presos vão responder por furto.
O protesto que reuniu 100 mil pessoas no Centro terminou em pancadaria depois que um grupo se dispersou e promoveu um quebra-quebra na região da Rua Primeiro de Março e Avenida Presidente Antônio Carlos, onde fica a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Dos 29 detidos durante o ato, nove foram autuados por formação de quadrilha, pagaram fiança e foram liberados. Catorze foram encaminhadas à 5ª DP (Mem de Sá) e liberadas após prestarem depoimento. Dois menores foram apreendidos, um por fato análogo a furto e outro por fato análogo à formação de quadrilha, e encaminhados para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Ainda está preso na delegacia por formação de quadrilha Darney Santos Diógenes, de 33 anos, que diz ser funcionário do Departamento de Sistema Penal (Desipe).
Segundo o delegado Antônio Bonfim, da 5ª DP (Mem de Sá), a polícia está analisando imagens de câmeras de segurança e da imprensa para tentar identificar integrantes do grupo que depredou lojas, carros e prédios públicos na manifestação. Imagens da CET-Rio e da própria Alerj também já foram solicitadas pela delegacia. A polícia também vai tentar identificar os responsáveis pelos atos de vandalismo por meio de impressões digitais. Perícias foram realizadas no locais depredados.
O que começou como um protesto pacífico e organizado terminou com cenas de violência e depredação provocados por um grupo que destoou do ato. O protesto contra o aumento nas passagens de ônibus, que saiu da Candelária e foi até a Cinelândia, levou milhares de pessoas à Avenida Rio Branco, mas acabou com um confronto entre PMs e manifestantes.
Alerj calcula prejuízo de até R$ 2 milhõesA Assembleia Legislativa amanheceu com janelas quebradas e cacos de vidro pelos corredores. Por volta de 20h30m, os manifestantes atacaram o prédio com pedras e até placas de sinalização. Cerca de 70 policiais militares do 5º BPM (Praça da Harmonia) e 45 funcionários ficaram presos, tentando se defender dos ataques. O Paço Imperial também foi atacado, tendo janelas quebradas e os muros pichados.
Do lado de fora da Assembleia, é possível ver pedras portuguesas soltas, garrafas pelo chão e pedaços de madeira. No entorno, estabelecimentos comerciais e agências bancárias totalmente destruídos, prédios públicos depredados e carros incendiados.
De acordo com Paulo Melo (PMDB/RJ), presidente da Alerj, disse que os prejuízos causados ao prédio da assembleia são calculados entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões. Segundo o deputado, 30% dos vidros e vitrais franceses do segundo andar foram destruídos. Melo informou que o policiamento da Casa foi feito por 75 policiais militares do 5ª BPM (Praça da República) e que o momento da intervenção da polícia foi decidido por ele, em conjunto com o governador Sérgio Cabral. Ainda segundo Melo, a Alerj não tem seguranças armados.
"O policiamento agiu dentro do controle e no momento determinado. O protesto foi feito na Avenida Rio Branco. Na Alerj, o que ocorreu foi vandalismo", disse o deputado.
Paulo Henrique Lima, de 24 anos, um dos organizadores da onda de protestos no Rio, avaliou como legítima a depredação do prédio da Assembleia Legislativa:
"Eu acho que o que está acontecendo hoje no Brasil e no Rio é o resultado de muitos anos de intolerância dos governos. Quando as pessoas vão às ruas são duramente reprimidas. No domingo, mil manifestantes foram duramente reprimidos no Maracanã. A gente está fazendo história no Brasil. Fomos completamente apoiados pelo pessoal dos prédios (da Avenida Rio Branco), que jogaram papel e piscaram as luzes em apoio", disse.
Mesmo criticando a ação da Polícia Militar, Paulo Henrique diz que a culpa da truculência não é dos policiais, e sim do Estado, que treina os PMs para serem violentos:
"A culpa não é do policial. A culpa é do governo, que joga a população contra ela mesma, que tem uma polícia treinada para gerar conflito com a própria população".
O estudante disse que espera receber pelo menos cinco mil pessoas na manifestação que será realizada nesta terça-feira em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Aluno de Segurança Pública na Universidade Federal Fluminense (UFF) e de Direito na Universidade Estácio de Sá, ele diz que, além das tarifas de ônibus, quer derrubar os governos corruptos.
"A nossa luta se mantém. A gente tem que derrubar a tarifa, mas também várias outras coisas, como os governos corruptos. A nossa pauta é muito ampla", afirmou ele.