Hoje, dia em que Curitiba festeja sua padroeira, Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, os olhares se voltam para o nicho da Catedral Basílica em que está a imagem da Virgem Maria. É ela a homenageada neste 8 de setembro – data em que se celebra a Natividade da Mãe de Deus, uma das solenidades marianas do calendário católico. Mas o ícone católico que rouba a atenção no principal templo da capital não é o único dedicado à Mãe de Deus na cidade. Ao todo, três esculturas sacras já passaram pelo posto, sendo que uma pertence ao acervo do Museu Paranaense e outra está no Museu de Arte Sacra. A atual ocupa o posto há 113 anos, desde que o templo da basílica foi inaugurado.

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Outra curiosidade é que este é o único dia em que a imagem de Nossa Senhora do Luz dos Pinhais é retirada do altar principal e colocada ao alcance dos fiéis. O deslocamento é cercado de cuidados e tem mantido a peça praticamente intacta por mais de um século. "Toda a limpeza e cuidados de conservação são delicados. Evitamos mexer muito na escultura. Para qualquer pequeno dano que ela sofra, como uma lasca que venha a cair, procuramos fazer rapidamente o trabalho de recuperação", conta o padre Pedro Vilson Alves de Souza Filho, pároco da catedral há cinco anos. A escultura em madeira de cedro trazida de Portugal para ocupar o altar principal da Basílica de Curitiba é uma representação comum de Nossa Senhora da Luz, sem características que remetam aos pinhais paranaenses, incluídos no título.

A imagem oficial da padroeira de Curitiba mostra a Virgem com o Menino Jesus no braço esquerdo e um cetro na mão direita, origem do facho de luz. Uma bola azul na mão da criança representa o mundo. "Para os católicos, Nossa Senhora é aquela que trouxe a luz de Cristo ao mundo, a luz das graças de Deus", explica o padre Carlos Alberto Chiquim, membro da comissão de bens culturais da Arquidiocese de Curitiba e secretário-executivo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no Paraná.

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Os fiéis devotos de Nossa Senhora das Luz dos Pinhais ou curiosos interessados na história religiosa da cidade podem conhecer as duas esculturas antecessoras da atual imagem oficial da santa protetora de Curitiba. Elas estão a poucas quadras da catedral. A mais antiga faz parte do acervo histórico do Museu Paranaense desde 1902. É uma imagem de barro, bem mais rústica do que a atual, sem pintura. Veio para Curitiba com os primeiros fundadores da vila que deu origem à cidade, por volta de 1640. Bastante danificada, não tem o braço que carregava o cetro de luz e Menino Jesus está sem cabeça.

A segunda imagem oficial da padroeira faz parte da exposição permanente do Museu de Arte Sacra de Curitiba, que fica ao lado da Igreja da Ordem. Assim como a primeira, também foi feita em terracota, mas é pintada e está em melhor estado de conservação que a anterior, embora também não tenha o braço direito, que carregava o cetro de luz. Foi trazida de Portugal para Curitiba no século 18. "Assim como o Brasil era uma colônia de Portugal, a Igreja Católica brasileira era um padroado português. Toda nomeação de bispos, formação de clero e até construção de igrejas que aconteciam no Brasil vinham de Portugal. As peças sacras também. Por isso, as três imagens de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais são portuguesas", explica o padre Chiquim.

Portugal não é só o país de origem das imagens de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, mas o berço da devoção de Nossa Senhora da Luz. Diz a tradição lusitana que por volta de 1453, na região de Carnide, uma luz misteriosa começou a surgir depois que um dos moradores foi seqüestrado por mouros e levado para o Norte da África. No cativeiro, por 30 noites, ele sonhava com a Virgem Maria e pedia para que fosse libertado. Na última noite, conta a história, Nossa Senhora lhe prometeu que ele acordaria em casa e que deveria procurar por uma imagem escondida em um local que lhe seria indicado por uma luz. O sonho se confirmou e, dali em diante, a Virgem ganhou o título de Nossa Senhora da Luz.

A devoção curitibana por esse título da Virgem tem detalhes curiosos. A imagem simples de barro trazida pelos primeiros habitantes de Curitiba ficava em uma pequena capela na vilinha às margens do Rio Atuba, um pouco além de onde seria fundada a Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Diz a história que a Virgem sempre amanhecia com os olhos voltados para os campos dos Pinhais, onde a cidade deveria ser e acabou sendo fundada.