A historiadora Maria Angélica Marochi não vive na Colônia Marcelino, na Colônia Mergulhão, na Murici, ou em qualquer uma das 30 colônias que pesquisa, desde 1999, para escrever o livro Imigrantes, 1870 1950: os europeus em São José dos Pinhais, lançado há pouco pela Travessa dos Editores. Mas é como se morasse em todos os lugares. É indicada como fonte obrigatória quando o assunto é São José.
"Eu queria apenas contar a história da cidade. Comecei a ir às comunidades e logo me dei conta da necessidade de aprofundar a pesquisa sobre as colônias", comenta. A contribuição do trabalho é inquestionável, pois além de reunir e comentar documentos sobre as localidades, resgata aspectos da vida privada que dificilmente apareceriam numa obra mais convencional. A junção desses dois tipos de documentação acaba pondo à mostra que a imigração no município não foi um fenômeno raso, um culto ao isolamento, mas um conjunto de pequenas histórias, construídas a poucos quilômetros uma das outras.
Angélica comenta, por exemplo, as diferenças entre a Colônia Afonso Pena e a Murici ambas polonesas, mas a primeira de cultura mais urbana, o que fez com que cedo exigisse escolas e políticas públicas. Nas áreas mais identificadas com a agricultura, uma das características foi o apego à língua polonesa, ucraniana ou italiana , o que chegou a gerar conflito nos tempos da ditadura Vargas. Angélica ainda encontrou quem insistisse em lhe dar entrevista em polonês. E quem nunca aprendeu a falar português. "Alguns grupos eram fechados e tardaram a ter escolas. Hoje, a tendência de boa parte das colônias, independentemente de sua personalidade, é ser engolida pela cidade", observa a historiadora.