Héracles, de 12 anos, é um estudante carioca que veio morar em Curitiba com a família há pouco mais de um mês. E foi indo ao cinema por aqui que ele teve a oportunidade de compreender melhor os problemas da sua antiga rotina no Rio de Janeiro. Junto com os pais, a psicóloga Vilma Pellegrino e o analista de sistemas Márcio Caruso, fez parte da plateia de 4 milhões de expectadores do filme Tropa de Elite 2, em dez dias de exibição. O objetivo foi mostrar ao menino porque ele faltava às aulas de vez em quando na cidade natal.
Vilma explica as razões para acompanhar o filho no filme do diretor José Padilha. "Somos do Rio e isso tem uma influência muito grande pra gente", relata a mãe. Segundo ela, em alguns momentos, Héracles e os colegas tinham dificuldades até para chegar à escola em razão de confrontos entre traficantes e a polícia.
Ir ao cinema foi uma maneira de explicar e discutir a realidade com o menino. Vilma não vê problema em seu filho assistir ao filme, famoso, entre outras razões, pelas cenas de ação e violência. "É a forma que você coloca essa experiência para ele", explica.
As filas de expectadores do longa metragem estão lotadas de crianças e adolescentes. No entanto, especialistas alertam que a companhia dos pais ou responsáveis é indispensável. "É saudável que os pais prestem atenção no que seus filhos entenderam do filme", explica a psicóloga Maria Eliza Spinelli, coordenadora da Clínica Social da Associação Paranaense de Terapia de Família. De acordo com ela, quase todas as questões polêmicas da sociedade são apresentadas de forma precoce para os rebentos.
No caso de Tropa..., deixar a criança exposta a cenas de tanta violência e corrupção pode deturpar a compreensão do que é certo e do que é errado, de acordo com a especialista. Um exemplo seria a ideia de que a corrupção está tão impregnada na sociedade que o expectador infantil poderia passar a ver a questão como natural.
A auxiliar administrativo Daniele Fagundes acompanhou o sobrinho Bruno Benz, 13 anos, ao cinema e não vê consequências negativas em o adolescente ver o filme. "Algumas coisas são reais. Exemplos negativos temos todo dia na tevê, na escola, na sociedade", observa.
Para a professora Araci Asinelli da Luz, doutora em Educação e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), colocar o filme com enfoque pedagógico é extremamente positivo. "Sou muito favorável. Não se pode deixar que eles (crianças e adolescentes) façam seus conceitos e preconceitos sem a participação dos pais", explica.
O principal fator positivo em levar os filhos ao Tropa de Elite 2 é o estímulo ao debate. As especialistas são unânimes em dizer que a discussão é fundamental para que os pais e os filhos entendam e estabeleçam diferenças entre o que é ficção e realidade. "Hoje em dia, as crianças veem violência na tevê, novelas, jornais. Elas formam um imaginário sobre o tema que está na pauta do dia e também são vítimas em potencial dessa violência", diz Araci. De acordo com ela, é a partir da discussão sobre o assunto que elas poderão até se prevenir.
O desafio está na abordagem do assunto. Muitas vezes os pais não conseguem estabelecer um canal adequado com os filhos para discutir temas importantes para a sociedade. Sexo, drogas e violência ainda são tabus nas conversas familiares. No entanto, informação e participação ativa na vida escolar e social dos filhos podem ajudar na hora de explicar conteúdos de violência e corrupção.
Desfavorável
A classificação para ver Tropa de Elite 2 é de 16 anos. Segundo a psicóloga Maria Eliza, é importante que menores de 12 anos não assistam, pois ficar exposto a cenas tão chocantes pode não ter um lado pedagógico. Diante da insistência das crianças, novamente o assunto merece discussão entre a família. Levar ou não é uma decisão de cada pai e mãe, mas é bom considerar a maturidade de cada um.
A promotora Luciana Lineru, do Centro de Apoio às Promotorias da Criança e do Adolescente do Ministério Público Estadual, não recomenda que crianças e adolescentes sejam levados para ver o filme. "Não vai trazer nada de bom. Violência exagerada não tem cunho pedagógico. Choca muito mais do que ensina, sem contar o risco de banalizar a violência", alerta.
Interatividade:
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