Roubo de placas é prejuízo ao patrimônio histórico
"O roubo de placas de homenagem a personalidades de Paranaguá está destruindo a história de Paranaguá e do Paraná", protesta o professor e vice-diretor da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá, Florindo Wistubal. Segundo ele, até mesmo uma placa de bronze de Júlia da Costa foi furtada no ano passado. Juntam-se a ela os registros do marco zero da estrada Paranaguá-Curitiba, de Leocádio Correia e do professor José Cleto.
"É uma infelicidade, já que com a destruição desses patrimônios de nossa história, perdemos todos nós", lamenta.
O poeta
O poeta é a flor que desabrocha túmida
Ao sol da vida que dá luz ao val
É o orvalho doce de gentil aurora
Em tímido rosal!
É o círio ardente de uma crença santa
Que o mundo aponta ao descair do dia
É umalma crente que se une aos anjos
Em mágica harmonia
O poeta é a luz que rutila vívida
Nos verdes campos da feliz mansão!
É um sorriso que desmaia trêmulo
À voz do coração!
O poeta é o gênio que dá vida à terra,
Dá voz à brisa, dá perfume ao mar!
É o cisne lindo que desprende as asas
Em trêmulo ansiar!...
Uma urna com os restos mortais da escritora paranaense Júlia da Costa foi encontrada em Paranaguá, na manhã de ontem. Operários da prefeitura realizavam obras de reparo no monumento que homenageia a poetisa, na Praça Fernando Amaro, no centro histórico da cidade, quando depararam com uma escultura abaixo do nível do chão.
"Foi uma surpresa do acaso. Mexemos no obelisco, pois ele estava inclinado. A intenção era apenas arrumá-lo", conta o secretário municipal de Serviços Urbanos de Paranaguá, Rudolf Amatuzzi Franco.
Os restos mortais da poetisa foram transferidos para o Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá (IHGP), onde será construído um novo túmulo ao lado de outro renomado escritor local, Leôncio Corrêa.
Apesar da surpresa do secretário, pessoas ligadas à cultura já sabiam do túmulo. "A transferência ao panteão em nossa praça cívica é reivindicada há mais de seis anos. Finalmente iremos preservar a memória desta personalidade", afirma o presidente da entidade, Alceu Maron.
Amor platônico
Júlia da Costa nasceu em Paranaguá, no dia 1º de julho de 1844. É considerada por historiadores locais como a primeira poetisa paranaense. "Filha de família tradicional, sempre se destacou pelo dom que tinha para artes, piano, música e poesia. Estava um passo à frente das outras mulheres do século 19", conta Florindo Wistuba Júnior, professor de História do Paraná e vice-diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (Fafipar).
Membro do Centro de Letras de Paranaguá e do IHGP, Wistuba conta que o contexto de vida foi determinante para o estilo das poesias de Júlia da Costa. "Prometida a um empresário de posses desde os 16 anos, se casou com um homem muito mais velho, aos 27. Mudou-se para São Francisco do Sul (SC), onde passou muitos momentos de tristeza e solidão. Apaixonou-se por um poeta de codinome Benjamin Carvoliva, cinco anos mais novo. Com ele, manteve um amor platônico exclusivo por cartas. Na era do romantismo, ela escrevia muito sobre a saudade dos amigos e da cidade natal", explica o historiador.
A escritora faleceu, em 1911, na cidade catarinense e o traslado de seus restos mortais até a Praça Fernando Amaro ocorreu em outubro de 1924, por iniciativa de poetas parnanguaras. O IHPG pretende realizar homenagens e cerimônia de sepultamento após o carnaval, em data ainda não definida.
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