Joanita Good Barause, ou dona Joana, é conhecida pela vocação para a fé: benzedeira e missionária, há 46 anos ela se dedica à cura pelas mãos e às peregrinações para Aparecida do Norte (São Paulo) e Nova Trento (Santa Catarina). Devota, enfrenta quilômetros de estrada duas vezes ao ano para celebrar Nossa Senhora Aparecida e seis vezes para rezar a Santa Paulina. Quando a idade permitia, Dona Joana visitava os santuários todos os meses. E ela não viaja só, pelo contrário, persuasiva, leva junto uma porção de gente.
“Consigo levar até dois ônibus lotados para Aparecida e Nova Trento”, conta, orgulhosa. “Meu propósito é incentivar a fé no povo. Quanto mais as pessoas vivem na fé, mais a vida se transforma. A força desses lugares é muito grande, a gente retorna fortalecido espiritualmente. Já percorri muita estrada, e não me canso.”
Como Joana, milhares de brasileiros não cansam de peregrinar rumo a santuários para rezar, pagar promessas em agradecimento por uma graça alcançada, pedir ajuda ou simplesmente conhecer a história de lugares considerados sagrados. Somente no ano passado, segundo dados do Ministério do Turismo, 17,7 milhões de brasileiros viajaram por motivos religiosos ou curiosos sobre o aspecto cultural e histórico inerente a todas as crenças - buscam conhecer igrejas e templos históricos, visitar e testemunhar como a vida acontece em mosteiros e conventos ou participar de cerimônias.
É o caso do empresário Everson Mizga, 36 anos, que busca unir a experiência espiritual à vivência cultural sempre que viaja – ele insere destinos religiosos em roteiros convencionais porque acredita que a religião esteja profundamente ligada à história, à cultura e ao desenvolvimento do lugar e da comunidade que vive ali. “Turismo religioso não é apenas para quem acredita”, argumenta.
De descendência ucraniano-romana, Mizga cresceu em uma família fiel às festividades religiosas e atribui a isso o interesse sobre as práticas do cristianismo em diferentes regiões do Brasil e em outros países. Para vivenciá-las, ele adotou um ritual turístico: faça chuva ou faça sol, sempre acompanha pelo menos uma celebração ou missa em todos os lugares que visita.
“Alguns amigos dizem que missa é igual em todo lugar, mas não é. A liturgia da Igreja Católica é a mesma, mas há diferentes formas de fazer a celebração. Além disso, consigo observar como toda a comunidade está envolvida e devota. Do ponto de vista cultural, essa vivência me permite entender a presença da Igreja naquele lugar, aprender sobre a arquitetura dos templos e a história de sua construção”, explica.
Missas pelo mundo
O empresário já viajou para vários países e fez questão de passar por igrejas, mosteiros e conventos. Com tanta bagagem, algumas viagens foram mais significativas, entre elas a ida ao Vaticano, em 2006, quando pôde assistir à missa realizada pelo então papa Bento XVI. “A energia é outra. Ali, você está rodeado por uma multidão, por milhares de pessoas e todas estão concentradas, entregues àquele momento.”
Outra celebração que lhe ficou gravada na memória foi a assistida em Nova Iorque (EUA), na Catedral Saint Patrick. “Foi um momento de contemplação: observei como as pessoas vão à igreja e recebem a hóstia, ajoelhados. Mesmo em uma metrópole como Nova Iorque, uma cidade que não para, as pessoas comungam profundamente, vivem a fé.”
Fé diversa
De acordo com levantamento realizado pelo Ministério do Turismo, o Brasil possui 96 atrações religiosas distribuídas em 344 municípios brasileiros. Mas não são apenas os destinos religiosos católicos que têm vez por aqui. O país também possui templos budistas, como o Zulai, em Cotia (SP), e Odsal Ling, em Três Coroas (RS), que recebem, juntos, quase 150 mil visitantes por ano. Já em Foz do Iguaçu (PR), a Mesquita Al-Khatab é o terceiro ponto turístico mais procurado da cidade e uma das mesquitas mais visitadas do país. O templo muçulmano recebe cerca de 60 mil turistas das mais diversas religiões por ano.