Cidade que tem desfile de presidente no carnaval deve ter público para aplaudir. Neste ano, 3 mil pessoas, vindas principalmente de Brasília, lotaram a Praça Diogo Teles Cavalcante, onde se apresentaram na noite passada cinco blocos. O nome da praça homenageia o fundador da cidade, que tem 178 anos e fica a 300 quilômetros de Brasília, no nordeste de Goiás.
Estou feliz demais. Eu quero sair de novo, festejava Aílton de Castro, principal destaque do bloco carnavalesco Só nóis e mais ninguém, um dos cinco que desfilaram na noite de ontem (22) Vestindo paletó e portando uma faixa presidencial com a frase Não sei de nada, Ailton era o presidente Lula no bloco que ironizava os políticos e lembrava o noticiário com os mais recentes escândalos.
Bom demais. Agora quero passar na Globo, dizia o presidente Aílton,entre uma pose e outra para as fotos que tirava com turistas e moradores da cidade.
Durante o dia, os turistas, que lotam as pousadas e e pensões de Cavalcante, procuram as inúmeras cachoeiras do município para descansar e fugir do calor. Além de muitas belezas naturais, a região abriga o maior quilombo do país, o Kalunga, uma comunidade de 6 mil habitantes.
Entre os blocos que saíram ontem, o Alegria Kalunga era o que mais tinha representantes da comunidade quilombola. Cerca de 80 de seus 120 componentes estavam na cidade para falar das festas e romarias que ocorrem no quilombo entre junho e setembro homenageando Nossa Senhora da Abadia, São Gonçalo e Santo Antônio. Eu tenho 65 anos e nunca vi uma coisa dessas, animava-se Joaquim Moreira Santos, o Mochila, presidente da Associação Kalunga, durante os desfiles.
Segundo ele, o período de festas no quilombo também é época de casamentos, pois é nessa época que padres e pastores visitam a comunidade e os moradores aproveitam a presença dos sacerdotes para fazer os casamentos e batizados.
Se a presença de religiosos é esporádica, mais rara é a qualidade de vida, conta Mochila. Até agora, estamos alumiando com a luz do sol, reclama o líder kalunga, contando que no ponto onde mora, o Vão do Moleque, também falta água há quase 200 anos assim como no Vão das Almas. As duas áreas também não têm estradas, nem assistência saúde.
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