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Estudantes e entidades médicas denunciaram irregularidades na distribuição de vagas do processo seletivo de 2025 para residência médica da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná. O edital foi divulgado na semana passada com 100% das oportunidades em Oftalmologia, Dermatologia, Psiquiatria e Cirurgia do Aparelho Digestivo reservadas exclusivamente a alunos negros, pessoas com deficiência (PcDs) e indígenas.
“Se outras universidades fizerem a mesma coisa, nós vamos excluir a maioria de ter a chance de entrar na residência médica. Essa vai ser a nossa opção de processo seletivo?”, alertou o médico Fernando Sabia Tallo, da Associação Médica Brasileira, em suas redes sociais. “Fica aqui minha absoluta indignação”, continuou.
Um ex-professor da UEL, que preferiu não ser identificado, explicou à Gazeta do Povo que o caso retira a igualdade de oportunidades em vez de promovê-la. “Os estudantes pagaram quase R$ 700 para participar do processo e agora descobriram que não há vagas para ampla concorrência nas especialidades que procuram”, disse. “Nunca vi algo assim”.
Em nota, a universidade explicou que a recomendação do Ministério Público (MP) e da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), do Ministério da Educação, é de que 30% da totalidade das vagas a partir deste ano sejam destinadas para ações afirmativas. Por isso, a universidade usou um algoritmo para aplicar essas reservas às especialidades que receberam inscritos cotistas.
Segundo a UEL, das 31 especialidades médicas ofertadas, apenas nove tiveram inscrições de estudantes negros, indígenas ou PcD, então o algoritmo separou as vagas dessas modalidades para cotas, seguindo “critério objetivo, imparcial e impessoal”.
No entanto, o método fez com que especialidades concorridas como Oftalmologia, Dermatologia, Psiquiatria e Cirurgia do Aparelho Digestivo tivessem a totalidade das vagas destinada aos cotistas. Além disso, Otorrinolaringologia, Anestesiologia, Cirurgia Geral, e Endocrinologia e Metabologia tiveram mais de 50% das vagas reservadas para esse fim.
Estudantes se sentiram enganados pela universidade
A distribuição, de acordo com o estudante Alexandre Wilton Bissoli Júnior, do 6º ano de Medicina na UEL, causou espanto da comunidade médica e fez com que candidatos se sentissem enganados pela universidade. Afinal, “quem se inscreveria para um curso que não pode usufruir da vaga?”, questiona.
Além disso, a UEL salientou que as oportunidades só serão disponibilizadas para ampla concorrência se candidatos por cotas não cumprirem os critérios de inscrição, como aprovação na prova da primeira fase e deferimento da condição de cotista pelas comissões de homologação.
“É razoável que, a fim de terem minimamente o direito a concorrer à vaga intentada, os candidatos de ampla concorrência tenham que esperar que os candidatos autodeclarados cotistas sejam desclassificados ou desistam do processo?”, perguntou a Associação dos Estudantes de Medicina do Paraná (Aemed-PR) pelas suas redes sociais.
A representação de professores e estudantes negros do curso de Medicina da universidade – o Coletivo Negrex UEL – também se manifestou, pontuando que a política de cotas deve ser realizada “sem comprometer a equidade e a competitividade no processo seletivo”.
Universidade ouviu entidades médicas na sexta-feira (25)
Após críticas ao edital, representantes do Conselho Federal de Medicina pelo Paraná (CFM-PR) se reuniram com membros da Residência Médica da UEL na última sexta-feira (25) para tratar do tema. De acordo com o médico e professor Alcindo Cerci Neto, conselheiro do CFM-PR, foi recomendado que a universidade cancele o edital e publique outro, o mais breve possível, com as devidas correções.
A Gazeta do Povo entrou em contato com a universidade nesta segunda-feira (28) solicitando o posicionamento da instituição, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.
Segundo o estudante Alexandre Wilton Bissoli, a expectativa é que a administração da UEL modifique o edital, conforme solicitado. Caso isso não ocorra, ele aponta que os estudantes poderão entrar com processo judicial “a fim de garantir o direito à concorrência justa de todos os candidatos”.