Desde julho a reitoria da Universidade Estadual de Maringá (UEM) tinha conhecimento da suspeita de fraude no sistema de cotas, que permitiram que candidatos supostamente ricos entrassem em vagas destinadas a alunos de baixa renda. Naquele mês, Catarina Teruco Makiyama, membro da comissão responsável pela seleção dos cotistas, protocolou ofício alertando a Pró-Reitoria de Ensino (PEN) sobre possíveis irregularidades na entrada dos novos alunos. Mesmo assim, a sindicância interna que apura o caso só foi instaurada no dia 7 de outubro.
De acordo com relatório elaborado por Catarina, assistente social da universidade, 184 cotistas podem ter sido beneficiados, mesmo tendo renda acima da estabelecida pela UEM. No caso mais extremo, o relatório identificou que há um aluno cuja renda da família é superior a R$ 1 milhão por ano. O protocolo geral confirma que o documento foi apresentado em 15 de julho, mas a sindicância de investigação só foi aberta depois de quase três meses. Bem antes disso, em fevereiro, Catarina afirma que as primeiras suspeitas já haviam sido levantadas.
No documento, destinado a Edinéia Regina Rossi, pró-reitora de ensino, Catarina cita "equívocos na aplicação de critérios para análise de alguns documentos enviados pelos acadêmicos de cotas sociais", e que é "urgente a realização de visitas domiciliares para constatação entre o que o acadêmico tem declarado e a realidade existente". Segundo a assistente social, a resposta dada por telefone era de que as providências já estavam sendo tomadas.
"Primeiro conversei e alertei as pessoas da comissão. Depois fui para a segunda instância, que é a pró-reitora de Ensino [Edinéia Regina Rossi]. Não tem como negar que eu não fui. Está ali. Dia 15 de julho. (...) Quando nós vimos que não ia acontecer nada fomos procurar o reitor. Dia 5 de agosto, eu e o outro representante da comissão de aferição fomos recebidos pelo reitor [na época, Décio Sperandio]."
Ainda assim, segundo Catarina, nada foi feito. "Como estava demorando demais e havia inoperância, então saímos discutindo o assunto nas bases, com centros acadêmicos, alunos e professores." Para a assistente social, apenas depois da movimentação da comunidade acadêmica é que a investigação interna começou.
Com base nos documentos, que evidenciam a entrada de alunos ricos nas vagas destinadas a estudantes cujas famílias ganham até 1,5 salário mínino per capita, no máximo, o Ministério Público Estadual abriu inquérito civil público para averiguar as possíveis irregularidades. O promotor José Aparecido Cruz, da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público, conta que, além de ouvir os envolvidos, pediu cópia de todos os documentos apresentados pelos candidatos e que envolveram o processo de seleção de cotistas.A reportagem entrou em contato com os demais integrantes da comissão de aferição de candidatos. Francisco Antonio Garcia e Edson Luiz do Santos informaram que vão esperar o contato da sindicância interna antes de se pronunciarem publicamente sobre o caso. O terceiro, Ademir Massahiro Moribe, não foi encontrado. Por meio de assessoria de imprensa, o ex-reitor Décio Sperandio preferiu não comentar o caso e o reitor Julio Prates Filho informou que vai aguardar a intimação do Ministério Público. A pró-reitora Edinéia Rossi também foi procurada, mas não respondeu aos telefonemas até as 20 horas de ontem.