A histórica falta de recursos para melhorar a estrutura física da Universidade Federal do Paraná (UFPR) agora pode ser responsável por emperrar a compra de um equipamento importante e raro para o Centro de Microscopia Eletrônica (CME) da instituição. No processo de compra do equipamento, um microscópio eletrônico de alta resolução usado em pesquisas nas áreas da Nanociência e da Nanotecnologia, a UFPR já venceu a etapa na qual se disputa verba federal. Cerca de R$ 3 milhões estão previstos no orçamento da Finep para a compra do equipamento, fabricado por apenas duas empresas no mundo. A aprovação de um projeto pela Finep, contudo, não é o único obstáculo.
Diretor do CME, o professor Ney Pereira Mattoso Filho está preocupado com a possibilidade de perder a verba. Criado em 1968 e referência em pesquisas na América Latina, o CME não tem espaço físico adequado para receber o equipamento. A busca por uma solução se arrasta desde 2010. O pró-reitor de Pesquisa e Graduação da UFPR, Edilson Silveira, diz que a instituição tem feito os esforços possíveis para resolver o problema, mas admite que não há solução a curto prazo.
A Finep é uma empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Em um chamado público realizado pela Finep em 2011, a UFPR conseguiu a aprovação de uma verba de cerca de R$ 11 milhões, destinada a uma lista de projetos da instituição, incluindo a aquisição do microscópio eletrônico de alta resolução. Em 2012, o convênio para aquisição do equipamento foi assinado. A partir da publicação do convênio no Diário Oficial da União, em dezembro de 2012, há um prazo de cinco anos para a viabilização do projeto. Neste período, a UFPR vai precisar adequar sua estrutura física para receber o equipamento.
Mattoso Filho explica que o aparelho tem de ser instalado em uma sala com condições especiais. O lugar precisa oferecer estabilidade térmica, por exemplo, e até vetar o surgimento de campos magnéticos. “Numa sala assim, não podemos falar nem usar celular. O computador ligado ao microscópio eletrônico tem que ficar isolado, em uma outra sala, para ser usado por acesso remoto. Não pode ter um ar-condicionado normal. Precisamos de um revestimento acústico. Não se pode ter ruído elétrico. A energia, aliás, jamais pode ser interrompida”, exemplifica. “A verba para o equipamento já está reservada. Agora, a UFPR precisa dar a sua contrapartida, que seria o local”, defende.
Para o professor, o equipamento é fundamental para o desenvolvimento de pesquisas na área da Nanociência e da Nanotecnologia. “Não existe desenvolvimento de estudos nessa área se você não observa objetos nessa escala (permitida pelo microscópio eletrônico de alta resolução). Não tem como desenvolver nada de forma competitiva com pesquisas já em andamento no Brasil e no mundo. É um equipamento que permite ver átomos com detalhes”, afirma.
Estudos na área, lembra o professor, contribuem para avanços “no desenvolvimento de medicamentos, de sensores de alimentos, de revestimentos protetores de estruturas”.
A verba para o equipamento está reservada. A UFPR precisa dar a sua contrapartida, que seria o local.