Nem a chuva fina atrapalhou a festa dos calouros da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que divulgou ontem os aprovados do vestibular 2007. Enquanto os futuros universitários festejavam no câmpus Agrárias, na Praça Carlos Gomes ou no litoral, o reitor da UFPR, Carlos Augusto Moreira Júnior, anunciava o objetivo para o próximo vestibular: aumentar as vagas noturnas.
A decisão está diretamente relacionada à questão das cotas não-preenchidas. Pelo terceiro ano consecutivo, os afrodescendentes não ocuparam todos os 20% das vagas a que tinham direito a porcentagem de aprovados negros vem caindo desde o vestibular 2005, quando as cotas foram introduzidas. "Com a distribuição atual entre vagas diurnas e noturnas, chegamos ao limite das cotas, que é uma média de 30% de calouros cotistas, quando oferecemos 40% das vagas", disse Moreira. Hoje, das 4.099 vagas da UFPR, 928 (22,6%) são à noite.
O reitor chegou à conclusão de que mais vagas noturnas ajudariam a preencher todas as cotas ao observar dados socioeconômicos: entre os candidatos negros aprovados, um em cada cinco havia feito o ensino médio à noite. Entre os calouros de escola pública, a proporção foi de 14,1%. Além disso, três em cada dez aprovados cotistas de escola pública tinham renda familiar abaixo de R$ 1 mil entre os afrodescendentes, 27,5% estavam nesta faixa de renda. "Os nossos candidatos cotistas são pessoas que geralmente precisam trabalhar para se sustentar. Quanto mais vagas à noite oferecermos, mais possibilidades daremos a esse grupo", afirmou.
Um exemplo citado por Moreira é o da UFPR Litoral, onde dois terços das vagas são à noite. "Se chegássemos a ter metade de dia e metade à noite na UFPR seria excepcional, mas eu já considero muito boa uma ampliação de mil vagas", calculou. Se isso ocorresse sem que vagas diurnas fossem canceladas, a proporção subiria para cerca de 40% de estudantes à noite. Atualmente, as áreas de Biológicas, Tecnologia, Agrárias e Saúde não oferecem aulas à noite. "As salas de aula ficam fechadas, é um desperdício", ressaltou. Por outro lado, nas áreas de Sociais Aplicadas, Educação e Jurídica, o número de vagas noturnas já supera as diurnas.
A universidade tem autonomia para decidir pela ampliação ou pelo remanejamento de vagas, mas Moreira afirmou que a medida não depende apenas da UFPR. "Nós temos a estrutura física, mas não temos pessoal. Precisaríamos contratar mais, e isso depende de liberação do Ministério da Educação", explicou. Moreira disse que, assim que a equipe do presidente Lula estiver definida, ele procurará o ministro da Educação com a proposta.
O reitor ainda comentou outros dados do perfil dos candidatos e aprovados na UFPR, começando com o fato de que, embora as mulheres sejam a maioria dos vestibulandos, os homens são 53,6% dos aprovados. "Temos percebido que as mulheres costumam se concentrar em certos cursos, onde concorrem entre si e acabam deixando de fora várias vestibulandas, enquanto as escolhas dos homens são bem distribuídas", comentou.
A mudança gradativa no perfil dos calouros ao longo dos anos também foi mencionada pelo reitor. "Com as cotas, percebemos algumas conseqüências. A idade média dos alunos está aumentando, porque os cotistas tendem a ser mais velhos. Além disso, estamos integrando universitários de várias camadas sociais", afirmou.
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