O reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Carlos Augusto Moreira Júnior, reeleito em novembro do ano passado, assumiu o segundo mandato na última terça-feira. A posse ocorreu em Brasília, numa cerimônia que contou com a presença do ministro da Educação, Fernando Haddad. Moreira estará à frente da UFPR até 2010, período em que deve apostar forte na relação entre a instituição e a comunidade. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele avalia seu primeiro mandato, faz prognósticos para os próximos quatro anos e comenta as ainda polêmicas cotas e a mudança nas pró-reitorias.
Como o senhor avalia seus primeiros quatro anos?
Foi uma gestão vencedora. Colocamos a Federal no dia-a-dia do paranaense e conseguimos isso com ações concretas, como o Provar (que incorpora à UFPR alunos de outras faculdades para ocupar as vagas que sobram nos cursos), nossa política de cotas e a expansão para o litoral, que até então era uma área carente de ensino superior. Além disso, saneamos as dívidas, realizamos uma série de obras físicas e investimentos. Também consolidamos o conceito da UFPR como uma universidade do Paraná, passando para todas as outras instituições do estado, especialmente as públicas, que queremos cooperar e não competir.
Quais são as prioridades do segundo mandato?
A primeira gestão foi voltada prioritariamente à graduação: revimos currículos, democratizamos o acesso, preenchemos vagas. Agora queremos nos dedicar de modo especial à extensão. Temos um exército de 30 mil jovens cheios de energia. Queremos fortalecer nossa presença no Vale do Ribeira (na divisa com São Paulo), um local com indicadores sociais assustadores e que oferece campo de trabalho para estudantes de várias áreas. Outro aspecto é a internacionalização da universidade. Há a tendência de que os alunos de graduação ou pós tenham uma experiência no exterior. Também é preciso destacar o reforço na assistência estudantil. No ano passado gastamos R$ 2 milhões e esse ano serão R$ 7 milhões, que devem ser divididos assim: R$ 3 milhões na construção do novo Restaurante Universitário; cerca de R$ 2,5 milhões com bolsas, que vão subir de R$ 150 para R$ 210; R$ 1 milhão em subsídios para que as refeições no restaurante continuem a R$ 1,30; e o restante em outras iniciativas menores e mais pontuais. Outra novidade é o programa de acessibilidade para pessoas com necessidades especiais. Temos 5,2% da população universitária com algum tipo de deficiência, seja visual, auditiva ou motora, e faltam rampas e apoio pedagógico.
Quais os planos de expansão da UFPR em termos de cursos e câmpus?
A universidade é expansionista por natureza. Na manhã da quarta-feira (dia 26) acertamos a criação do curso de Engenharia de Produção, em Curitiba, que foi um pedido do Crea (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Paraná). No litoral haverá outros três cursos: Assistência Social e Gestão em Empreendedorismo, de graduação, e Educador Social, de nível técnico-profissionalizante. Por causa dos novos cursos, as vagas no vestibular deste ano subiram para 300, contra 191 no primeiro ano. Também deve haver um aumento na educação à distância, em que já temos mais de 15 mil alunos.
Qual é a situação financeira da universidade hoje?
O orçamento em 2002, quando assumimos, era de cerca de R$ 400 milhões por ano. Em 2006 vamos para R$ 600 milhões. Mas o mais importante são os números das verbas para investimento, que subiram de R$ 17 milhões em 2002 para R$ 39 milhões esse ano. Isso é o que vem do MEC. As emendas parlamentares, que renderam R$ 400 mil em 2002, agora nos proporcionarão R$ 5 milhões. O esforço de melhora de produtividade começou a dar resultados, já que os dados que o MEC usa para determinar os recursos sempre têm dois anos de defasagem. Agora eles estão com os nossos números, de alunos diplomados, pós-graduandos, etc, de 2004. Ano passado, éramos a quinta universidade federal do país em orçamento. Agora somos a quarta. Tínhamos dívidas com a Copel, com a Sanepar e com terceiros, que chegavam a R$ 10 milhões. Mas tudo isso foi saneado.
Pelo segundo ano consecutivo, as cotas para negros não foram totalmente preenchidas. Como o sistema pode ser melhorado?
O que já se sabe é que os cotistas têm desempenho escolar semelhante aos não-cotistas, mesmo porque, pelo nosso vestibular, a primeira fase não considera as cotas e só passa para a segunda fase quem realmente tem condição de acompanhar o curso depois, seja ou não cotista. As escolas públicas preenchem todas as vagas reservadas porque há muitos candidatos, mas os vestibulandos negros ainda são poucos e aí a culpa não é nossa. Ela vem lá de baixo, de uma estrutura que não prepara seus alunos bem o suficiente para prestar nosso vestibular. O Conselho Universitário vai analisar os números e pode mudar as porcentagens, se achar melhor. Isso deve ser decidido ainda neste semestre.
Ainda há resistência às cotas?
Pelo menos dessa vez não tivemos problemas na Justiça. No primeiro ano foram 75 processos, todos pessoais contra o reitor. A sociedade entendeu nosso objetivo, mas ainda não chegamos a um consenso em outros grupos. A Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior) pediu ao MEC 10 anos para implantar a ação afirmativa. O MEC recusou e parece que agora o prazo baixou para cinco anos, embora isso ainda não tenha sido aprovado no Congresso. Isso é absurdo, quem tem vontade política faz no mesmo ano. Por outro lado, ainda precisamos esclarecer melhor a própria comunidade acadêmica. O episódio do professor de Direito que está sendo acusado de racismo pelos alunos é muito triste. Para vencer tudo isso, precisamos de serenidade.
Por que pró-reitores foram todos substituídos para a nova gestão?
A substituição não tem nenhuma relação com critérios de desempenho. Todos fizeram muito bem o seu trabalho. Mas para essa eleição fizemos uma outra composição, a vice-reitora é outra, os cargos mudam também. E não seria justo manter alguns pró-reitores e substituir outros. Estamos dando chance a novas pessoas, porque a UFPR tem muito talento capaz de administrar a universidade. E a prova de que os substituídos são competentes é o fato de eles estarem assumindo outros cargos.
O único grupo em que o senhor não conseguiu maioria na eleição para reitor foi o dos estudantes. Como melhorar o diálogo entre eles e a reitoria?
Reconhecemos que houve falhas de comunicação. E onde a comunicação é fraca, proliferam os boatos. Também fomos incitados pelo MEC a fazer uma reforma universitária que o próprio ministério não conseguiu explicar bem e os estudantes viram nisso uma bandeira para se posicionar contra. As falhas de comunicação nos distanciaram e agora temos de recuperar o terreno perdido. Tenho feito reuniões com centros acadêmicos para explicar nossa política de assistência estudantil e a maioria está compreendendo bem. Mas existem facções aqui dentro com ideologias políticas pré-definidas e, por mais que mostremos dados, não será suficiente para eles.