Mesmo após a decisão de seus professores de encerrar a greve da categoria, na última sexta-feira (21), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) não tem data para retomar as aulas, interrompidas há dois meses. Alunos e funcionários técnico-administrativos da instituição seguem em greve. Nessa segunda (24), os servidores optaram, em assembleia, continuar parados pelo menos até o dia 1º de setembro. Os alunos devem decidir no próximo dia 31.
A UFRJ é uma das quatro instituições federais com aulas paralisadas no Estado do Rio. A Universidade Federal Fluminense (UFF) está em greve geral há três meses. Os professores da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) aderiram ao movimento no dia 5 de agosto. A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) também está parada. Segundo o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-RN), só UFF, UFRJ e Unirio tinham, até semana passada, cinco mil professores afastados das salas de aula.
A suspensão de aulas não é a única consequência da greve. Funcionários técnico-administrativos da UFRJ afirmam que não vão matricular novos alunos da instituição aprovados pelo Enem. A chamada presencial de inscrições, que sucede a pré-matrícula online, seria no fim de agosto. Em nota, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFRJ (Sintufrj) declarou que “a assembleia deliberou que a não realizará as matrículas presenciais do Sisu, seguindo a deliberação proposta pelo Comando Nacional de Greve”.
Os professores e funcionários administrativos das quatro instituições federais do Rio recusaram a proposta de reajuste do governo para todos os servidores federais, de aumento de 21% dividido em quatro anos. Eles exigem 27% de aumento já em 2015. Nesta quarta, 26, docentes viajam a Brasília para participar da mobilização nacional pelo reajuste. No dia 28, está previsto um ato só com professores de instituições federais.
“Houve uma precipitação dos docentes (que decidiram encerrar a greve), segundo a avaliação do sindicato. Essa é uma semana muito importante de negociação em Brasília”, acredita Luciana Boiteux, vice-presidente da Associação de Docentes da UFRJ (ADUFRJ). Segundo ela, as aulas só poderão ser retomadas quando os Conselhos Universitário e de Ensino de Graduação definirem cronograma para esse processo.
Para o presidente da Andes-Sindicato Nacional, Paulo Rizzo, a “decisão da assembleia da UFRJ é uma democrática e deve ser respeitada”. “ Mas a greve continua nas demais universidades no Rio. Ao todo temos greves em 48 instituições no País. Estamos em um momento decisivo em termos de negociação. Acreditamos que a greve nacional se mantém por mais um pouco”, declarou o professor.
Enquanto isso, os alunos de federais do Rio traçam suas estratégias para driblar as previsões de formatura atrasadas. A estudante de ciência política da Unirio Ingrid Gomes, de 24 anos, deveria ter colado grau em julho deste ano, o que não ocorreu por causa da greve. Antes disso, chegou a defender a monografia e fez uma cópia da ata, com as notas dos avaliadores. Recém-aprovada para um curso de mestrado, teve que recorrer ao documento para participar do processo seletivo. Segundo a formanda, que apoia a greve, os professores de ciência política da Unirio conhecem os docentes da instituição onde fará mestrado, o que abriu caminho para a solução improvisada.
“A banca aceitou a cópia da ata de defesa da monografia, contanto que nós apresentássemos ao menos uma declaração de conclusão de curso até a inscrição no mestrado, que é em março”, disse Ingrid.
Já a estudante de psicologia Rebeca Bartolote, de 25 anos, conta que já deveria ter colado grau do curso pleno, concluído na UFRJ em julho. Com a greve, não consegue comprovar a conclusão nas disciplinas e tirar o registro no Conselho Regional de Psicologia, necessário para que possa atender pacientes. O diploma de bacharel em psicologia, que ela em tese já obteve desde o ano passado, também não foi liberado devido à greve de funcionários técnico-administrativos. “Com isso eu não consigo prestar prova para um mestrado, que é o que eu faria esse ano”, diz Rebeca.
Em nota divulgada em seu site, o Ministério da Educação (MEC) afirma que a greve “preocupa” e se diz à disposição para “dialogar com as entidades e instituições federais”. “A primeira reunião sobre o assunto, com a Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra), aconteceu em julho de 2014. De fevereiro de 2014 a agosto de 2015, representantes do ministério se reuniram com a entidade 23 vezes para tratar da agenda de reivindicações. A última reunião aconteceu em 21 de agosto de 2015, para dialogar sobre jornada de trabalho”.
Além da Fasubra, ressalta o MEC, houve negociações com a Andes-SN e com a Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes).
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