Além das consultas pré-natais, dos exames de sangue e de outros procedimentos de rotina, a realização da ultrassonografia morfológica (exame por imagem completo da anatomia do bebê), durante as 12ª e 22ª semanas de gestação, é imprescindível para identificar complicações cardíacas e outros males congênitos nos fetos. Mas o exame só fará a diferença se efetuado por profissionais com boa formação e preparo. De acordo com o cardiopediatra Nelson Miyague, do Hospital Cardiológico Costantini, 80% dos casos de cardiopatia escapam do diagnóstico precoce por falta de conhecimento de quem faz o exame. O especialista recomenda a realização de uma ecocardiografia fetal pelo menos uma vez durante a gestação, principalmente se o obstetra identificar fatores de risco.
Para o pós-doutor em Medicina Fetal Fábio Peralta, professor da Universidade de Campinas (Unicamp) e único médico brasileiro a fazer procedimentos cardíacos intrauterinos, identificar algumas doenças fetais exige não só treinamento, mas sensibilidade por parte do médico. "Identificar uma cardiopatia é uma das etapas mais difíceis de um exame. O feto pode apresentar inúmeras alterações e é preciso interpretá-las corretamente. Existem especializações e até residências em Medicina Fetal para esses profissionais. Esta área exige treinamento durante toda a vida." O médico estará em Curitiba hoje como principal convidado do Seminário de Cardiologia Fetal do Hospital Costantini.
Peralta explica que, quando estes dois exames são realizados de forma cuidadosa e sistemática, é possível diagnosticar a maioria das doenças fetais com antecedência e inclusive tratar algumas delas antes do parto. "É importante alertar que o método não é infalível, mas tem o poder de salvar muitas vidas."
Entre as doenças que podem ser tratadas ainda no útero materno estão a hérnia diafragmática formação de um buraco entre o tórax e o abdômen , a anemia fetal, a obstrução urinária, e algumas cardiopatias. "No caso da hérnia, conseguimos criar um balão traqueal, que realiza uma expansão do pulmão do bebê, aumentando significativamente as suas chances de sobrevivência", descreve.
Nova chance
Por meio de uma ecocardiografia fetal, a fonoaudióloga Fabiana Federger descobriu que o seu filho Pedro, hoje com 8 anos, apresentava uma coarctação de aorta (aorta reduzida), que colocava a sua vida em risco. "Os exames diagnosticaram outras alterações genéticas, mas o que mais nos assustava era a cardiopatia", lembra.
Assim que Pedro nasceu, já foi dado a ele um medicamento, que teve de ser importado, que o manteve vivo por 24 horas. Durante este período, o bebê foi submetido a uma cirurgia para corrigir o problema. "Se não tivéssemos o diagnóstico precoce, o Pedro não teria sobrevivido", conta Fabíola.
De acordo com o médico Nelson Miyague, oito a dez de cada mil nascidos vivos no mundo têm algum tipo de cardiopatia congênita. Destes, 35% precisam de cirurgia no primeiro mês de vida. Quando não tratados, 50% morrem em até 30 dias e os demais morrem antes de completar 1 ano de vida.
O especialista orienta as gestantes a tirar todas as dúvidas com o profissional de diagnóstico. "Pergunte a ele se o coração do bebê está bem e peça para verificar com detalhes os batimentos e a imagem", aconselha.