Há um ano acontecia um dos casos mais violentos da história recente do Paraná, relacionado à Vila Torres,em Curitiba. Cinco pessoas –uma sexta vítima morreu mais tarde no hospital– eram assassinadas no último dia de 2014 no estacionamento do supermercado Walmart, no bairro Uberaba. Era o fim de uma guerra que se estenderia até janeiro deste ano com mais sete assassinatos –cinco na Vila Torres, dois no Bairro Alto, tudo por vingança –, e a prisão de vários suspeitos. No mesmo mês, começaria uma espécie de período calmo que não se via há muitos anos na localidade: de 2013 até janeiro de 2015, a Vila Torres viu 40 pessoas morrerem em razão da guerra urbana entre traficantes. Uma investigação policial da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) colaboraria com uma relativa calmaria que, aos olhos da população local, não significa paz. Foram 12 homicídios entre fevereiro e outubro deste ano, nenhum ligado à disputa entre gangues segundo a polícia – ainda assim, 12.
O enredo da chacina era o mesmo que há tempos tirava o sono dos moradores da Vila Torres: uma disputa por armas, drogas, território e poder entre as “gangues de Cima ou Xicarada” (as vítimas da chacina), “gangues de Baixo” e “gangue do Predinho” (os atiradores).
Após a barbárie, no entanto, uma mudança passou a ser mais factível aos olhos dos moradores. A investigação da chacina acabou por prender cinco suspeitos, desmantelando os grupos no final de janeiro. Outros dez foram detidos por suspeita de estarem envolvidos com os crimes entre gangues em ações paralelas durante a investigação. A guerra gerou 26 inquéritos policiais.
“Com polícia ou sem ela, quando os bandidos decidem fazer guerra terá guerra. Mas agora há certa sensação de segurança. Não é paz porque aqui não acreditamos mais nisso”, disse um morador que pediu para não ter o nome revelado.
O ambiente na Vila Torres mudou bastante desde então. Antes de 2015, quem não morasse na região da “gangue de Baixo” e quisesse ir até a unidade de saúde local não podia devido à divisão territorial. “Hoje as pessoas andam livre, mas sempre na expectativa de que esse clima possa desandar a qualquer momento”, comentou outro morador.
Para o delegado-chefe da DHPP, Miguel Stadler, a segurança na Vila Torres teve uma melhora considerável. Segundo ele, a identificação dos suspeitos da chacina, as prisões e a morte de alguns suspeitos na guerra diminuíram o ímpeto entre as gangues. Alguns suspeitos, que respondem ação penal pelos crimes em liberdade, seguem sendo monitorados. Stadler explicou ainda que os homicídios que aconteceram, de fevereiro em diante, não estão relacionados à disputa de poder que havia, mas têm ligação com o uso de drogas e com crimes em outros bairros.
“Desde aquela investigação, ações integradas com a Polícia Militar e outras especializadas, como a Divisão de Narcóticos, passaram a dar resultado na localidade”, afirmou o delegado. De acordo com Stadler, hoje as gangues estão enfraquecidas, mas alguns resistem em tentar implantar divisões de área sem respaldo da população. “Os moradores da Vila Torres não toleram mais isso. São pessoas que só querem trabalhar e seguir com a vida”, disse o delegado.