Em cima, uma mulher agita seu cabelo. Em baixo, o computador recria o movimento| Foto: Reprodução - G1

Brasília – Enquanto conta as moedas para a passagem do ônibus, Francenildo dos Santos Costa esnoba a fama meteórica que experimentou. Um ano depois de ter desmentido publicamente o então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, iniciando o processo de fritura que derrubou o homem-forte da Economia no governo Lula, o ex-caseiro só conta derrotas desde então. Nildo, como é conhecido, diz que perdeu o emprego, foi abandonado pela mulher, que também temia ficar sem trabalho, e obrigado a se mudar do quarto em que vivia para um barraco na periferia de Brasília, onde divide um banheiro coletivo com outras 30 pessoas. "Que diabo de fama é essa? Fama tem que ser igual à do Big Brother, que você ganha dinheiro e vai a um monte de festa. Tudo só piorou", diz o ex-caseiro.

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Sucessor

O surgimento de Nildo foi o tiro de misericórdia em Palocci, que à época era apontado até como o provável sucessor de Lula em 2010. Nildo confirmou que Palocci freqüentava a chamada "casa do lobby", onde ex-assessores de Ribeirão Preto supostamente fechavam negócios escusos. Após a revelação, teve o sigilo bancário de sua conta quebrado, numa operação ilegal que envolveu Palocci e o então presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, que também perdeu o cargo.

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Nildo não quer, porém, saber do passado. Diz que os holofotes só lhe causaram problemas. Hoje, o ex-caseiro vive de bicos, fazendo serviços esporádicos em casas do Lago Sul, bairro nobre de Brasília. "Quando vou procurar emprego, algumas pessoas ficam com medo. Elas dizem: ‘Você foi envolvido com a Polícia Federal’."

Nildo aproveita todas as chances para se queixar das pessoas que o acusaram de ter recebido dinheiro para delatar Palocci. A quebra ilegal do sigilo revelou que o caseiro tinha recebido, meses antes, cerca de R$ 25 mil, dinheiro que ele alegou ter recebido de seu pai, o empresário Eurípedes Soares da Silva, em troca de seu silêncio sobre a paternidade. Eurípedes confirmou a versão, que nunca foi desmontada.

Dinheiro

O dinheiro, segundo ele, evaporou. Foi gasto na compra de dois lotes de R$ 2 mil cada em Nazário, cidade do Piauí onde vive a mãe; em ajudas periódicas à família; e em cópias dos processos de indenização que move contra os envolvidos no episódio da quebra ilegal de seu sigilo bancário. "Hoje eu queria mesmo era um emprego fixo, porque essa indenização, se tiver, meu filho é que vai ver." Nildo se recusa a comparar sua situação com ado ex-ministro, mas não resiste a uma alfinetada: "Não quero me comparar a ele. Mas não entendo como Palocci conseguiu (se eleger deputado). A não ser que aquelas notícias não tenham passado na tevê em Ribeirão Preto. Se fosse eu, estaria preso até agora. Hoje, ele está aí andando em carro de luxo."