Não foi em Camaçari, na região metropolitana de Salvador, na Bahia, que tudo começou, mas foi ali que, em abril de 2015, foram registrados os primeiros casos autóctones de infecção por zika vírus do país. Foi ali também que, em seguida, a “síndrome exantemática indeterminada” que acometia diversas pessoas no Nordeste do país no início de 2015 foi identificada como infecção por zika vírus. Tudo isso há um ano.
Apesar de significativo, o período é considerado curto para que as respostas às muitas perguntas sobre a doença sejam encontradas. “Isso é muito recente. Hoje continuamos tendo mais perguntas do que respostas, porque algumas respostas a gente só vai ter ao longo do tempo”, diz a virologista da Fiocruz Paraná Cláudia Nunes Duarte dos Santos.
O que se conhece muito bem, segundo a especialista, é a composição do material genético do vírus que está circulando no Brasil – e ele é semelhante ao vírus que provocou um surto na Polinésia Francesa em 2013 e 2014. “Sabemos que ele tem uma capacidade de evoluir maior do que outros vírus da mesma família, o que implica que ele consegue se adaptar muito mais rápido, se tornar mais competente em infectar humanos mais rapidamente”, explica Cláudia.
Contudo, não foi identificado ainda um marcador molecular de virulência, ou seja, alguma característica do genoma que explique os sintomas causados pelo vírus, e só com o passar dos anos que será possível descobrir se pessoas que tiveram zika poderão contraí-la outra vez ou se ficam imunes.
Também não foi identificado um pedaço da sequência genética que diferencia o vírus zika de seus parentes febre amarela, dengue e outros vírus encefalíticos. Com isso, a eficácia dos testes sorológicos para confirmar a doença fica comprometida. “Uma parte da população no Brasil é vacinada contra a febre amarela e boa parte dela também tem anticorpos contra a dengue. Os testes que temos cruzam isso, não te dão uma resposta precisa: isso é zika, isso é febre amarela, isso é dengue”, explica Claudia.
São incertos ainda os métodos para controle da doença, já que nem todos os métodos de transmissão foram identificados. Sabe-se que se trata de um arbovírus, ou seja, vírus transmitido por um artrópode – o mosquito Aedes aegypti. Conforme a especialista, a transmissão sexual também já está provada e presente na literatura, mas ainda não se sabe de que outra forma é possível a propagação do vírus.
“Sabemos que o vírus foi detectado em vários fluídos do corpo, saliva e urina, por exemplo. Se o vírus que está nessa saliva é infeccioso, não sabemos. Me parece que há, sim, um outro mecanismo de transmissão, mas precisamos realmente fazer uma pesquisa muito ampla para confirmar”, diz a virologista da Fiocruz.
Gestantes
A relação da infecção pelo zika vírus em gestantes com a microcefalia em recém-nascidos já foi estabelecida. Segundo Cláudia, o vírus é capaz de infectar a placenta de gestantes e permanecer ali durante toda a gravidez, além ser transmitido de forma congênita para o feto, tendo atração pelo tecido nervoso do bebê em formação.
Ao que parece, porém, faz diferença a época em que a gestante é infectada. “Aparentemente, as gestantes que se infectam muito no final da gravidez têm filhos sem microcefalia ou outro problema. Para afirmar com segurança, precisamos de estudos de corte”, diz.