A abertura da Copa do Mundo no Brasil completa um ano sexta-feira (12). Restou a memória do espetáculo dos jogos e da animação de torcedores brasileiros e estrangeiros e da derrota por 7 x 1 da seleção brasileira para a Alemanha. No presente, o mundo vê o maior escândalo da história do futebol, revelado pelo FBI. O ex-presidente da CBF José Maria Marin foi preso e o presidente reeleito da Fifa, Joseph Blatter, renunciou.
INFOGRÁFICO: Veja mapa das obras previstas
A alegria do novo ônibus durou pouco na Linha Verde
Hoje pouco se fala no legado da Copa, assunto que quase ofuscou o campeonato em muitos momentos. Mas o fato é que em Curitiba, uma das sedes do Mundial, a contribuição deixada pelo evento segue, em parte, no papel. Ainda há quatro obras por terminar e a previsão de gastos delas aumentou R$ 38,8 milhões, de acordo com o site da transparência da Copa. Ou R$ 16 milhões, segundo a Comec, que não contabiliza projetos e desapropriações. E todo recurso extra deverá ser aportado pelo governo do estado, conforme o contrato assinado com o governo federal no PAC da Copa.
Para prefeitura, há consequências positivas
O secretário municipal de Planejamento Fábio Scatolin avaliou o resultado prático das obras para a população como um benefício que deve ser melhor aproveitado nos próximos anos. Segundo ele, sem a Copa não seria possível amealhar perto de R$ 500 milhões para o que foi e está sendo feito na cidade. Ele concorda quando se fala que o viaduto estaiado, por exemplo, não teve impacto sobre a qualidade de vida da população, mas defende o que aconteceu no entorno e na Avenida das Torres. “[O benefício] Não é uma coisa a curto prazo. A gente faz essas obras para a próxima geração.” Scatolin acredita que olegado ficará mais evidente quando a cidade tiver obras complementares, como a Linha Verde Sul. Lá, um trecho foi reformado, mas o que segue até o extremo sul da cidade tem vários problemas, pois não passou pelo mesma reparação. Sobre a única obra que a prefeitura não terminou, o terminal do bairro Santa Cândida, Scatolin prevê a entrega em dois meses. Segundo ele, o atraso é da prestadora do serviço.
A lista inclui melhorias nas avenidas Marechal Floriano e Comendador Franco, a criação do Sistema Integrado de Monitoramento Metropolitano e a implantação do sistema viário metropolitano na Avenida da Integração. Elas só devem ficar prontas entre dezembro deste ano e fevereiro de 2016, quase dois anos depois do evento.
Outras quatro obras foram concluídas pela prefeitura de Curitiba, e a cidade pôde usufruir de benefícios na área da mobilidade [veja o gráfico]. É inegável a redução de mais de 10 minutos no trajeto entre o Centro e o Aeroporto em São José dos Pinhais, com a reforma da Avenida das Torres. Os usuários também ganharam conforto e segurança na rodoferroviária. Desde a reforma não houve registro de assaltos, conforme a Urbanização de Curitiba (Urbs).
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Leia a matéria completaMas há intervenções que não ficaram como planejadas ou causaram novos problemas. É o caso das 13 famílias vizinhas do viaduto alargado sobre a linha férrea no Boqueirão, e o tubo recentemente desativado da linha Ligeirinho Fazenda Rio Grande. Na obra incompleta da Marechal Floriano, um aviário tem perdido clientes. Ambiente empoeirado e sem fluxo de veículos dificulta a chegada de novos compradores. “Nem os fornecedores conseguem chegar aqui. Imagine os fregueses, que podem escolher outro lugar para comprar”, diz Clelson Peixoto, dono do estabelecimento.
Gastos extras
O diretor técnico da Coordenação da Região Metropolitana (Comec), Sandro Setim, explica que imprevistos e as eleições atrasaram os projetos administrados pelo governo do Paraná. No complemento das obras da Avenida das Torres, em São José dos Pinhais, sondagens realizadas no solo perto do Rio Iguaçu indicaram a revisão do projeto. Isso também ocorreu na Avenida Marechal Floriano, que seria alternativa de acesso ao aeroporto, mas segue com trânsito complicado. Mesmo com o atraso, Setim defende os benefícios das reformas.
Para Olga Lucia Firkowski, professora da Pós-Graduação em Geografia da UFPR, e coordenadora do Núcleo Curitiba do Observatório das Metrópoles, a vida da população pouco mudou. Ela reconhece alguns avanços, como no caso da Avenida das Torres, mas ressalta que essas obras quase não resolveram os problemas da cidade. “A Copa foi um evento. É preciso pensar em projeto de longo prazo para todos.”
A alegria do novo ônibus durou pouco na Linha Verde
A reforma do trecho da Linha Verde Sul, na região do Pinheirinho até a Rua Izaac Ferreira da Cruz, levou benefícios para vários frequentadores daquela região. Desde moradores até funcionários das empresas que margeiam a rodovia. Para o auxiliar de serviços gerais, Pedro Pinheiro, 41 anos, a obra garantiu ainda o tubo da linha Ligeirinho Fazenda Rio Grande em frente à empresa em que trabalha. Era fácil ir para o trabalho e voltar para casa. O legado da Copa tinha beneficiado ele e mais alguns funcionários da mesma empresa. Mas a alegria durou pouco.
Inaugurado em outubro, foi desativado em março pela Coordenação da Região Metropolitana (Comec) sob o argumento de que era pouco usado. “Moramos em Fazenda Rio Grande. É longe. Antes vínhamos direto com o ligeirinho. Agora pegamos um alimentador até o terminal do Pinheirinho. De lá, a gente caminha por 25 minutos l”, conta. “Eu saio cansado de carregar peso. Minha vida tinha melhorado com o ônibus, mas voltou a piorar. Sem contar que quando voltamos no final da tarde dá um medo de caminhar por aqui”, reclamou. A Comec afirmou que a linha tinha poucos usuários e, por isso, foi desativada. Os passageiros, segundo a Coordenação, podem usar linhas locais do bairro.
Calçada virou marginal do viaduto sobre a linha férrea
O casal Viviane Costa, 30 anos, e Élcio Maia, 34, mora em um sobrado ao lado do viaduto sobre a linha férrea da Avenida Marechal Floriano Peixoto, que foi alargada e revitalizada para a Copa do Mundo de 2014. A casa deles faz parte de um conjunto de sobrados com 13 famílias que sofrem as consequências negativas da obra. Na porta da casa, formam-se filas de carros, ônibus e caminhões, com direito a “buzinaço” matinal. “O legado da Copa só piorou nossas vidas”, diz Élcio. Por onde transitam os veículos era para ser a calçada das casas, fechada para o tráfego, conforme prometido antes da obra, contam os moradores. O espaço embaixo do viaduto, que também fica em frente aos sobrados, virou um lixão, em que moradores de rua e usuários de drogas mantêm restos de comida, roupa e objetos. O local também é usado como banheiro. As famílias ainda sofrem com os custos de telhas quebradas pela trepidação da obra. Nada foi restituído. Sem contar a desvalorização do imóvel.
A prefeitura de Curitiba afirma que a sinalização restringe acesso de caminhões e ônibus naquele trecho, mas afirma que vai reforçar a fiscalização e que já pediu estudo para o prolongamento da Rua Anne Frank, para desafogar a região.
Centro integrado de controle ainda não atua a pleno vapor
A Segurança Pública foi uma das áreas mais atendidas. O estado ganhou caminhões equipados para receber e transmitir dados em grandes eventos. Um Centro Integrado de Comando e Controle Regional (CICCR) pode monitorar a cidade por câmeras e softwares integram os sistemas operacionais da segurança.
O CICCR ficou parado após a Copa até dezembro de 2014, quando foi reativado pelo ex-secretário Fernando Francischini. Agora, a Sesp aguarda contar em 60 dias com representantes de outras instituições estaduais, municipais e federais que trabalharão de forma integrada no local. Só então, o centro deverá atuar com toda sua capacidade.
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