Um ano depois que Sean Goldman foi entregue ao pai, a família brasileira do menino ainda luta para conseguir voltar a vê-lo. Esta semana, os advogados da família brasileira de Sean entraram na Justiça com um novo pedido de visitação consular ao neto, que foi negado na tarde desta quarta-feira (22), pelo governo dos Estados Unidos.
"Acabei de ser informado pelo Ministério de Relações Exteriores que o Departamento de Estado Americano se negou a intermediar o pedido de visita consular com ou sem a presença dos avós", informou o advogado Carlos Nicodemos. Segundo ele, a decisão foi justificada da seguinte forma: "diante do desinteresse do pai não há o que se fazer".
O advogado informou que o caso já está sendo levado ao Ministério das Relações Exteriores. "Essa negativa está sendo encaminhada ao ministro Celso Amorim, já que não houve reciprocidade dos EUA para garantir o bem estar do menino", afirmou Nicodemos.
Procurado pelo G1, o Itamaraty informou, por meio de sua assessoria, que vai checar o caso com o departamento consular.
"Não estamos dando o caso por encerrado. Esperamos o posicionamento oficial do ministro e do Estado Brasileiro o quanto antes", completou.
Ainda segundo ele, o caso agora virou uma questão política. "A questão subiu para o andar de cima e deverá receber tratamento político, para rediscutir a reciprocidade entre Brasil e EUA em relação à Convenção de Haya", já que, segundo Nicodemos, o governo brasileiro garantiu ao pai do menino o direito de visitar Sean no Brasil.
Desde dezembro de 2009, o avô materno, o padrasto e a irmãzinha caçula não tiveram mais nenhum contato com o menino Sean. O último telefonema, autorizado apenas para a avó, foi no dia 22 de junho. "Não temos notícias. Ele está sendo blindado, está tudo bloqueado. Ele não está tendo contato com ninguém e isso é uma violência. A parte dos direitos humanos nesse caso, então, é lastimável", desabafou a avó materna Silvana Bianchi, em entrevista ao G1, antes de receber a notícia sobre a negativa do governo norte-americano.
O G1 tentou entrar em contato com Silvana após a decisão desta quarta (22), mas ela não foi encontrada para comentar o caso.
Silvana conta que, desde a ida do neto para os Estados Unidos, os telefonemas são escassos, gravados e sempre feitos pela família brasileira e eles não conseguem contato nem via internet.
"Em março fomos aos Estados Unidos e não conseguimos vê-lo porque o David não nos deu permissão. Fomos à Justiça pedir autorização para uma visita, reiterando o caráter de urgência, e não conseguimos. Ele é obrigado a falar com a gente sempre em inglês. Acho que há um esforço até para ele esquecer o português. Ele praticamente só responde sim e não. O que era um telefonema, parece uma entrevista", disse Silvana, que nas poucas vezes que conversou com o neto faz questão de falar português, mesmo que ele responda em inglês.
Na casa brasileira, tudo continua como ele deixou, com fotos suas espalhadas pelos cômodos. "Apesar de 2 anos e 4 meses, a Chiara sempre pergunta por ele. Como temos fotos dele pela casa inteira e ela vê e pergunta: cadê o irmão?", conta.
Questões na Justiça
Na Justiça brasileira, a família Bianchi alega que a decisão de entregar Sean ao pai foi assinada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, que não era o relator do processo, contrariando a decisão anterior do ministro Marco Aurélio Mello. Tanto a avó quanto o padrasto, João Paulo Lins e Silva, entraram com recursos, que ainda não foram julgados.
Segundo Ricardo Zamariola, advogado de David no Brasil, o processo permanece a decisão que liberou Sean para seguir para a casa do pai.
Procurados pelo G1, os advogados do americano nos Estados Unidos não retornaram os contatos até a publicação desta reportagem.
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