O Vapor Tibagi, personagem que fez parte de ciclos econômicos importantes do Paraná como o da madeira e da erva-mate e que participou de conflitos históricos como a Revolução Federalista (1892-1895) e a Guerra do Constestado (1912-1916), está prestes a ressuscitar. A iniciativa é de dois ex-marinheiros que estão fazendo o resgate do naufrágio que se desgarrou do porto em 1957, durante uma enchente em Porto Amazonas, cidade a 80 quilômetros de Curitiba.
É ali que o Rio Iguaçu tem seu primeiro ponto navegável e de onde partiam e chegavam as maiores riquezas do estado entre os anos de 1882 a 1954. Contar um pouco dessa história através da reconstrução do barco, com projeto baseado nos destroços encontrados, é a intenção de José Gonçalves e Renato Escarant, ambos com 70 anos.
A ideia surgiu quando o memorialista e escritor Francisco Lange contratou Gonçalves para navegar parte do Iguaçu com a finalidade de escrever um livro sobre o rio. "Desci com ele (Lange) até União da Vitória com a minha chalana. A gente tinha mais ou menos a ideia de onde estava o vapor e fomos encontrá-lo. O problema era como tirar ele do lugar", conta Gonçalves.
Quando o Tibagi foi arrastado pela enchente, parou em um braço de rio; depois que as águas baixaram os restos de madeira cortados nas redondezas que estavam no local furaram o casco. A vegetação cobriu o naufrágio, dificultando muito a retirada. "O barco ficou num lugar muito difícil. Para recuperar o que ainda restou tivemos que cortar em vários pedaços e transportar por um trecho de três quilômetros até onde estava a caminhonete", relata Gonçalves. A caldeira e o eixo central, peças que pesam mais de uma tonelada cada uma, ainda não foram resgatados. O que os moradores conseguiram retirar está exposto em Porto Amazonas e a partir do que foi recuperado fizeram um projeto para a reconstrução do barco.
A estrutura do vapor está comprometida depois de tantos anos, mas a intenção dos marinheiros é usar algumas peças para manter a "alma" do vapor e reconstruí-lo. No entanto, eles não têm recursos para continuar a obra.
Financiamento
Para conseguir terminar o resgate das peças que ainda estão encalhadas e tocar o projeto de reconstrução, os moradores já têm o apoio da prefeitura de Porto Amazonas. "Estamos elaborando um projeto para conseguir recursos no Ministério da Cultura e Secretaria Estadual de Cultura. Também vamos tentar com a Petrobras e outras empresas através da isenção fiscal", diz o prefeito Miguel Tadeu Sokulski.
Renato Escarant, o outro morador que também participou da recuperação do vapor, conta que até agora eles tiveram apoio de alguns amigos, mas que fizeram a maior parte do trabalho dispondo de recursos próprios. "Foram seis meses de trabalho, em três pessoas: eu, o Gonçalves e mais um rapaz que foi contratado. A prefeitura também ajudou cedendo um trator para a retirada de partes do casco", relata, esperançoso de que os recursos venham para a reconstrução. "Desde que começamos a recuperar o barco tem sido um frisson, muita gente interessada em saber do assunto", diz.
Para saber mais:
Vapores Arnoldo Monteiro Bach 493 páginas Editora UEPG.