Reconstrução
Ideia é criar museu flutuante
Uma das intenções com a reconstrução do Tibagi é tornar o barco uma espécie de museu flutuante, onde interessados em história, visitantes e turistas tenham condições de conhecer um pouco da rica história dos vapores e da época em que eles eram o principal meio de transporte.
"Foi um período de mais de 70 anos, muito rico em história, que precisa ser lembrado. Recuperar o Tibagi é o mínimo que pode ser feito para rememorar e enaltecer o trabalho realizado pelos nossos antepassados", afirma Arnoldo Monteiro Bach, que já escreveu três livros sobre os meios de transportes usados no Paraná, inclusive um específico sobre os vapores.
Para Francisco Lange, que ajudou os moradores a encontrar o naufrágio, o projeto de restauração do barco vai ajudar a contar um pouco mais sobre o Rio Iguaçu. "Para escrever o livro Iguaçu, um caminho pelo rio, percorri grandes trechos pelas águas do Iguaçu e os vapores retratam um período muito bonito e importante, que merece ser lembrado", avalia.
Alguns ex-marinheiros, moradores de Porto Amazonas também estão ansiosos em ver o projeto concluído. "Assim como o Gonçalves e o Escarant, quando criança trabalhei aqui no porto. Eu era o responsável pela limpeza do vapor. Trabalhávamos dia e noite, viajando até Porto Vitória, a 360 quilômetros de distância. Ver o Tibagi agora enche a gente de lembranças", diz Antônio Cid Ribas, de 82 anos.
O Vapor Tibagi, personagem que fez parte de ciclos econômicos importantes do Paraná como o da madeira e da erva-mate e que participou de conflitos históricos como a Revolução Federalista (1892-1895) e a Guerra do Constestado (1912-1916), está prestes a ressuscitar. A iniciativa é de dois ex-marinheiros que estão fazendo o resgate do naufrágio que se desgarrou do porto em 1957, durante uma enchente em Porto Amazonas, cidade a 80 quilômetros de Curitiba.
É ali que o Rio Iguaçu tem seu primeiro ponto navegável e de onde partiam e chegavam as maiores riquezas do estado entre os anos de 1882 a 1954. Contar um pouco dessa história através da reconstrução do barco, com projeto baseado nos destroços encontrados, é a intenção de José Gonçalves e Renato Escarant, ambos com 70 anos.
A ideia surgiu quando o memorialista e escritor Francisco Lange contratou Gonçalves para navegar parte do Iguaçu com a finalidade de escrever um livro sobre o rio. "Desci com ele (Lange) até União da Vitória com a minha chalana. A gente tinha mais ou menos a ideia de onde estava o vapor e fomos encontrá-lo. O problema era como tirar ele do lugar", conta Gonçalves.
Quando o Tibagi foi arrastado pela enchente, parou em um braço de rio; depois que as águas baixaram os restos de madeira cortados nas redondezas que estavam no local furaram o casco. A vegetação cobriu o naufrágio, dificultando muito a retirada. "O barco ficou num lugar muito difícil. Para recuperar o que ainda restou tivemos que cortar em vários pedaços e transportar por um trecho de três quilômetros até onde estava a caminhonete", relata Gonçalves. A caldeira e o eixo central, peças que pesam mais de uma tonelada cada uma, ainda não foram resgatados. O que os moradores conseguiram retirar está exposto em Porto Amazonas e a partir do que foi recuperado fizeram um projeto para a reconstrução do barco.
A estrutura do vapor está comprometida depois de tantos anos, mas a intenção dos marinheiros é usar algumas peças para manter a "alma" do vapor e reconstruí-lo. No entanto, eles não têm recursos para continuar a obra.
Financiamento
Para conseguir terminar o resgate das peças que ainda estão encalhadas e tocar o projeto de reconstrução, os moradores já têm o apoio da prefeitura de Porto Amazonas. "Estamos elaborando um projeto para conseguir recursos no Ministério da Cultura e Secretaria Estadual de Cultura. Também vamos tentar com a Petrobras e outras empresas através da isenção fiscal", diz o prefeito Miguel Tadeu Sokulski.
Renato Escarant, o outro morador que também participou da recuperação do vapor, conta que até agora eles tiveram apoio de alguns amigos, mas que fizeram a maior parte do trabalho dispondo de recursos próprios. "Foram seis meses de trabalho, em três pessoas: eu, o Gonçalves e mais um rapaz que foi contratado. A prefeitura também ajudou cedendo um trator para a retirada de partes do casco", relata, esperançoso de que os recursos venham para a reconstrução. "Desde que começamos a recuperar o barco tem sido um frisson, muita gente interessada em saber do assunto", diz.
Para saber mais:
Vapores Arnoldo Monteiro Bach 493 páginas Editora UEPG.
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