Olhar crítico
Corrupção é destaque negativo do país para quem vem de fora
Apesar das opiniões divergentes em relação ao povo brasileiro, os estrangeiros ouvidos pela reportagem têm algo em comum: acham que os políticos por aqui são corruptos e a economia, lotada de impostos. O inglês Dennis John Warren, 46 anos, é categórico. "Minha visão é negativa. Sabe por quê? Porque aqui o político não representa a população", conta.
Ele compara com a Inglaterra. "Na terra da Rainha, se eu tenho problema na escola ou na minha rua, há um vereador responsável pela minha área. Aqui não funciona assim. Uma pessoa não tem nem acesso ao governo", observa.
Warren também fala sobre o custo de se viver aqui. "É muito maior do que o inglês. Aqui eu ganho mais do que lá, mas eu tenho um poder aquisitivo bem menor, principalmente parar comprar eletrodomésticos, carro e celular." Algo com o qual Sergio Amaral, do Timor Leste, também concorda. "O problema é que o imposto é muito caro. Como as pessoas vivem com isso?", questiona.
O coordenador do curso de Música da PUCPR, Jorge Falcon, cita a corrupção. "Por muito tempo, o país foi governado por uma mesma linha política. Isso acaba transformando estruturas de corrupção em algo muito difícil de destruir. Parece um filme de terror", desabafa o argentino, há 20 anos no Brasil.
Opinião semelhante tem a italiana Raffaella Bonani, 36 anos. "Acho que aqui tem muita corrupção, mas um dos principais problemas é que as pessoas não acompanham política. Na Itália, as questões políticas são pauta para mesa de bar", diz.
Mas as críticas dela também miram a população. "Não se ensina o povo sobre posição política. Se você perguntar, muitos não saberão os candidatos que escolheram nas últimas eleições. A política é reflexo disso. Tenho certeza de que tem gente que vai votar contra a Dilma só porque a seleção brasileira perdeu no futebol", diz.
Inglês achou os curitibanos receptivos
O inglês Dennis John Warren (foto acima), 46 anos, ficou surpreso ao chegar a Curitiba, cidade conhecida por ter um povo fechado. "Existe a ideia de que quem mora na capital paranaense é frio. Eu não achei. Fui muito bem recebido por todos", conta ele, que chegou ao país há 10 anos para viver um grande amor com uma paulistana. Por outro lado, Sérgio Amaral, 22 anos, do Timor Leste, sente um certo distanciamento com as pessoas daqui. "Na universidade ou na rua, as pessoas me olham e eu cumprimento, mas ninguém responde", conta. "Mas eu vivo aqui faz quase um ano, então já me acostumei", revela.
No Brasil, desembarca gente de todo canto do mundo: Tonga, Guam, Eritreia, Portugal, Austrália, Itália e por aí vai. De acordo com o Sistema Nacional de Cadastro e Registro de Estrangeiros (Sincre), há mais de 1 milhão de estrangeiros espalhados pelos 8.515.767 km² de terras tupiniquins. A reportagem da Gazeta do Povo conversou com sete pessoas vindas da Europa, Estados Unidos, Ásia e África. As opiniões delas sobre o nosso país variam conforme a origem e a condição. É como se os recebêssemos de maneira desigual, "sorrindo" para alguns e virando a cara para outros.
INFOGRÁFICO: Confira o número de estrangeiros presentes atualmente no Brasil
O segundo caso parece se encaixar melhor à impressão que Willrodrig Adda, 22 anos, teve ao chegar ao Brasil. Ele veio do Camarões há um ano e meio para estudar Direito na UFPR. Segundo ele, a recepção por aqui não foi nada calorosa, ao contrário do que sugere a imagem que é vendida lá fora. "O Brasil é um país racista. E eu não entendo por quê. Você tem negros, amarelos, brancos, japoneses, mas você percebe que o pais está dividido", observa. "Na minha turma, sou o único estrangeiro, mas posso dizer que ainda não tenho colega. Quando eu passo no corredor e dou bom dia, ninguém responde. De onde vim, isso não acontece. É estranho", relata.
O finlandês Markus Mikael Vahtola, 29 anos, tem uma impressão completamente diferente. Intercambista na PUCPR há um ano e três meses, ele está no Brasil pela quarta vez. Aqui, diz sempre ser recebido com um sorriso toda vez que passa. "As pessoas são extremamente receptivas, simpáticas e carinhosas", descreve. Certa vez, ele foi a um evento com chorinho no parque. Uma moça, ao vê-lo chegar sozinho, resolveu papear. "Nós curtimos o concerto juntos, conversamos sobre vários temas e, depois do evento, ela se ofereceu para me dar carona. Disse que era perigoso caminhar sozinho nas ruas."
Contrastes
Para o sociólogo Marcio de Oliveira, integrante do Núcleo de Estudos sobre Sociologia, Multiculturalismo e Imigrações Internacionais da UFPR, o estrangeiro é tratado conforme a nacionalidade. "Enquanto aqueles vindos de países emergentes são vistos como pessoas com baixa escolaridade e baixa qualidade profissional, os que vêm da Europa, principalmente de países ricos, recebem um tratamento diferenciado", observa.
Essa "diferenciação" dada ao estrangeiro de país pobre, segundo Oliveira, pode ser bem exemplificada pela forma como os bolivianos e os haitianos são tratados no Brasil. O governador do Acre, Tião Viana, por exemplo, retirou do estado, em abril deste ano, centenas de haitianos e os enviou para São Paulo sem fazer qualquer tipo de aviso prévio ou político. O secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania da cidade, Rogério Sotilli, disse que "não se podia admitir" esse tipo de atitude.
Oliveira também culpa o país. "O governo acha que, na hora de reivindicar cadeira na Organização das Nações Unidas [ONU], é pais de primeiro mundo, mas, na hora de receber estrangeiros de países pobres, seja para morar ou apenas passear, ele se comporta como de terceiro mundo. É um Brasil ambíguo e é lógico que isso reflete na população."
Diversidade
A coordenadora acadêmica do Instituto Cervantes, Ana Maria Rego Vilar, 36 anos, encontrou no Brasil a tal da "diversidade". "Minhas primeiras amigas foram senhoras japonesas. Mesmo com a diferença de idade, ficamos muito próximas. De vez em quando, quando posto fotos delas nas redes sociais, meus colegas estrangeiros me perguntam quer dizer que o brasileiro é assim, tipo japonês?", diverte-se.
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