"Acomodação"
É preciso romper com o assistencialismo, diz pesquisador
Apesar da geração de renda para as participantes da Cooper Mesa, com o passar dos anos ocorreu um esvaziamento da cooperativa, que fechou. O professor Edson Marques Oliveira observou que o esvaziamento ocorreu em função da opção das pessoas pelo assistencialismo imediato, como o programa Bolsa Família, em vez de prosseguir com o empreendedorismo.
Acabar com essa acomodação em função de benefícios sociais não é tarefa fácil. Oliveira enfatiza que o desafio da universidade é perceber que os empreendedores que se encontram na linha de vulnerabilidade social são diferentes daqueles que possuem dinheiro para investir e aguardar o retorno. "Essas pessoas, como a gente brinca, vendem o almoço para comparar a janta", observa.
Mas, na opinião do coordenador do programa, é preciso romper com esse processo de acomodação. "Eu acredito que uma forma de romper com o assistencialismo e acomodação são projetos como esses, que dão oportunidades. Isso traz dignidade às pessoas ao criar uma condição de renda", avalia.
Bolsa Família
No ano passado, Oliveira publicou um artigo que também foi apresentado na Universidade de Coimbra, em Portugal, onde defendeu o programa Bolsa Família, inclusive com aumento do valor repassado aos beneficiários. Ele ressalta, no entanto, que é preciso condicionar a inserção do programa a uma incubadora social ou empreendimento coletivo.
A ideia é definir cinco anos como limite máximo de permanência no programa federal, com avaliações anuais para saber se está ocorrendo, de fato, o processo de inserção social. Segundo ele, isso faria com que o beneficiário não fique na expectativa apenas da remuneração do Bolsa Família e acabe se acomodando. "Acho isso salutar, pois o dinheiro público iria gerar um processo de autonomia e não de manutenção da pessoa como alvo de vários interesses, principalmente políticos-eleitorais. É uma maneira digna de combater a miséria", observa.
Estimular a gestão social empreendedora e com isso garantir o desenvolvimento sustentável a famílias em situação de risco é o que propõe um projeto desenvolvido no câmpus da Universidade Estadual do Oeste (Unioeste), em Toledo, no Paraná.
Fruto da tese de doutorado do professor Edson Marques Oliveira sobre empreendedorismo social, o programa Casulo deu seus primeiros passos por meio de uma cooperativa formada por mulheres que passaram a trabalhar com costura. O projeto cresceu e se transformou na Cooperativa de Mulheres Empreendedoras Sociais em Ação (Cooper Mesa). "Fizemos uma pesquisa territorial, capacitação na área de gestão e posteriormente as mulheres escolheram a costura de material reciclado", diz Oliveira, coordenador do projeto.
Além da Associação Comercial e Industrial de Toledo (Acit) e a prefeitura local, os Correios integraram o programa com doações de malotes e camisetas usadas pelos funcionários. Com as partes recicláveis dos malotes que iriam para descarte, as mulheres confeccionavam bolsas para eventos e conseguiram vários clientes, entre eles a Itaipu Binacional. Já as camisetas eram transformadas em flanelas utilizadas em empresas do setor de mecânica para limpeza das mãos dos profissionais.
Jovens
Os projetos desenvolvidos dentro do Programa Casulo também incentivam o empreendedorismo jovem. "Algumas oficinas já foram realizadas com estudantes do ensino médio e do Centro da Juventude", explica o coordenador. O objetivo é mostrar aos jovens alternativas que vão além do trabalho formal como empregado.
O Casulo também mantém relações com prefeituras da Região Oeste que possuam técnicos que atuam com políticas de gestão de trabalho. "Isso acaba aperfeiçoando profissionais para esse campo de gestão", observa o professor.
Oliveira diz que, mesmo antes de defender a tese de doutorado sobre o tema, já trabalhava para materializar o conhecimento sobre empreendedorismo social dentro do Paraná. "Quis devolver à sociedade esse investimento que foi feito na minha vida como pesquisador," diz.
O programa Casulo, através da Unioeste, recebeu em 2007 o Prêmio Ethos, em São Paulo. No ano seguinte, em Curitiba, destacou-se com o Prêmio Responsabilidade Social Empresarial e Sustentabilidade, da Faciap.
Cooperativa resgata símbolos de Toledo
O cooperativismo dentro do Programa Casulo ganhou um novo projeto que demonstrou força antes mesmo da sua oficialização, na última terça-feira. A Cooperativa Ciranda do Artesanato (Cociart) reúne 12 mulheres que estão trabalhando símbolos da cidade de Toledo, especialmente o porco, ícone da cidade do "Porco no Rolete".
Em uma sala na própria universidade, as artesãs se reúnem para confeccionar lembrancinhas. São camisetas e aventais estampados, bonecos e outros objetos em que o porco é o destaque. O material usado na confecção dos objetos é comprado pelas próprias integrantes do projeto como forma de estimular o planejamento e administração da cooperativa.
Irma Neves, uma das participantes da Cociart, está entusiasmada. "A gente quer fazer alguma coisa na vida, ter um futuro melhor e divulgar os ícones de Toledo. Queremos algo grande e levar os símbolos de Toledo para o Brasil inteiro", declara.
Rosilei da Silva Pantrigo conta que trabalha com artesanato há seis anos e enxergou na cooperativa uma forma de o público reconhecer o seu trabalho. "Sozinho as vezes você fica meio escondido, mas com a cooperativa é interessante porque são várias mulheres querendo fazer a mesma coisa, mesmo sonho e mesmo anseio", observa.
Em grupo
Luciana Engel enfatiza também que com a união é possível trocar experiências porque as mulheres envolvidas no projeto já atuam com artesanato. "Trabalhar em grupo não é fácil, mas quando há um objetivo você aprende com todos", diz. A ideia é compartilhada pela colega Eliane Magali Barbieri, que afirma acreditar no sucesso da nova cooperativa. "Eu faço feiras no centro da Copagro e o pessoal já chega pedindo lembrancinhas de Toledo, que eu não tinha."
A Cociart tem apoio do Programa de Extensão Universitária (Proext), ligado ao Ministério da Educação.
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