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América Latina

Um continente de olho na corrupção

“A repulsa pública em relação a esse péssimo comportamento [da corrupção] vem crescendo”, diz Michael Shifter, presidente da Inter-American Dialogue. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
“A repulsa pública em relação a esse péssimo comportamento [da corrupção] vem crescendo”, diz Michael Shifter, presidente da Inter-American Dialogue. (Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo)

Quando manifestações de rua forçaram o presidente da Guatemala a renunciar, no final do ano passado, em meio a um escândalo de corrupção, o caso pareceu ter sido uma interrupção rara numa tradição longa e lucrativa de impunidade na América Lati na.

Agora, ele dá indícios de ter sido o prenúncio de um movimento maior por um governo mais limpo. Escândalos de tráfico de influência e subornos vêm incomodando países desde o México até o Chile. Munida de novas ferramentas jurídicas e do ativismo eletrizado das mídias sociais, surge uma classe média angustiada e emergente, e cada vez mais bem informada, difícil de intimidar e indisposta a aceitar a noção do cargo público como caminho para o enriquecimento pessoal.

No Brasil, uma imensa investigação de corrupção na Petrobras envolveu o partido governante e trouxe a presidente Dilma Rousseff à beira de um impeachment. Na Argentina, há investigadores fechando o cerco contra a ex-presidente Cristina Kirchner, cuja fortuna se multiplicou enquanto estava no governo. As manchetes no Peru, Equador e outras nações vêm sendo dominadas por histórias de propinas, subornos e contas suspeitas no exterior.

A diferença hoje é que, em boa parte da América Latina, novos mecanismos jurídicos estão erradicando crimes que antigamente teriam passado despercebidos. No Brasil, reformas judiciais realizadas sob o próprio governo do PT de Rousseff em 2013 expandiram o sistema de delação premiada que está levando a acusações contra alguns de seus membros hoje – junto de dúzias de outros políticos brasileiros.

Os investigadores andam usando esses recursos como um pé-de-cabra para arrombar as velhas muralhas de silêncio, persuadindo os comparsas do partido a se voltarem uns contra os outros.

Um corpo judicial independente patrocinado pela ONU na Guatemala, conhecido pelas suas iniciais CICIG, ajudou a dar a promotores, juízes e cidadãos comuns a confiança necessária para enfrentar figuras poderosas como o ex-presidente Otto Pérez Molina. No passado, era fácil para os governos autoritários do país controlarem os tribunais e silenciarem ativistas.

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