Trabalhadores descansam à sombra do sol escaldante de Antonina: temperatura chega perto dos 40ºC no ápice do dia.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Nas ruas do centro de Antonina não se sentia mínimo vestígio da brisa do mar, na tarde desta quarta-feira (11). Sob sol inclemente do céu sem nuvens, a sensação térmica beirou os 52ºC, segundo o Instituto Simepar - o terceiro dia seguido em que a marca fica acima dos 50ºC, valor normalmente registrado em um dos lugares mais quentes do mundo, o deserto do Saara. Terça-feira (10), a temperatura era de 39ºC e sensação térmica de 59ºC às 13h30.

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Com tanto calor, sua-se à sombra e um bafo quente parece emanar dos paralelepípedos. O calor parece insuportável a quem não é da cidade. Para quem mora em Antonina, o verão está normal.

“O negócio é aceitar. Aqui todo mundo acaba se acostumando. Tem feito um calor federal, mas não é nada diferente dos outros anos”, definiu o vigilante do Fórum da cidade, William Rodrigues, que suava por debaixo de sua farda. “Chega a encharcar o colete, mas é assim mesmo”, completou.

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O casal Bianca e Cristopher Renar tenta esconder dos raios solares o filho Arthur, de apenas sete meses. 

No comércio, o vai-e-vem de pessoas ganha o colorido das sombrinhas, com as quais os passantes procuram se proteger. É debaixo de uma delas que o casal Bianca e Cristopher Renar tentava esconder dos raios solares o filho Arthur, de apenas sete meses. Quem usa a bicicleta como meio de transporte não desistiu de pedalar e enfrentou o sol a pino.

“Quando dá, é sombra. Quando tem que sair, é guarda-chuva, boné e água”, resumiu Cristopher.

A maioria dos integrantes das equipes da prefeitura que trabalham na manutenção das ruas e podas de canteiros optou pelo uniforme com blusa de mangas compridas, apesar do calor. É que a roupa longa, apesar de mais quente, protege o corpo, evitando queimaduras.

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“A gente sofre um pouco mais, mas pelo menos não queima. A verdade é que a gente está acostumado a trabalhar no sol, mas não custa se proteger um pouco mais”, apontou Antonio Marcos Ferreira dos Santos, que aproveitava o horário de almoço para aproveitar “o ventinho da maré” sob uma sombra, acompanhado dos colegas.

Eletricista curitibano Júlio Berger foi a Antonina a trabalho, mas não aguentou o calor e foi pescar.  

Para turistas e forasteiros, o calor só parecia se amenizar na orla, onde a brisa soprava, ainda que timidamente. Ali, no trapiche, os amigos Joelson da Costa, de 12 anos, e Dionei Cardoso, de 16 anos, nem pareciam sentir o rigor do verão, enquanto arriscavam saltos do alto do parapeito. “Protetor solar pra quê? A gente está acostumado”, pontuou Costa.

Já o eletricista curitibano Júlio Berger, de 40 anos, acabou sendo vencido pelo tempo abafado. Ele desceu a Antonina pela manhã, para fazer um orçamento de trabalho. Teria que esperar até o período da tarde, mas não resistiu: ele e a equipe arranjaram varas de pescar e, no calor das 13 horas, tentavam fisgar uns peixes, à beira-mar.

“Ficar no carro com esse calorão não dá. É impossível, insuportável. Eles [os moradores de Antonina] estão acostumados, mas a gente, de Curitiba, não aguenta, não”, disse. Ao lado, um funcionário do eletricista observou: “Ainda bem que ele é o chefe e está junto, senão a gente ia estar torrando lá no carro. É muito calor”, apontou.

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Vigia William Rodrigues sofre com a roupa de trabalho no calor de Antonina. 

Lucro à vista

Na sorveteria Skimone, no centro de Antonina, chegou a se formar fila. A proprietária, Graciele Aparecida Gotardi, disse que tem sido assim todos os dias: movimento alto durante as tardes. Só nos últimos sete dias, ela estima que as vendas tenham aumentado 30%. “A gente sofre junto por causa do calor, mas, pelo menos, aumenta o movimento”, apontou.

Nos restaurantes, o fluxo também tem sido maior. O movimento tem crescido não só por causa de turistas, mas de moradores de Antonina. O casal Jonathan e Kamille Welzel – proprietários de dois restaurantes na cidade – têm uma teoria para isso. “Ninguém aguenta ficar no fogão com este calor. Então as pessoas saem mais para comer fora”, disse Jonathan. “No restaurante da orla, onde vão mais turistas, o movimento aumentou 100%. Neste, do centro, que vêm mais gente daqui, aumentou 50%”, acrescentou Kamille.

Por que tão quente?

Segundo o Instituto Simepar, as altas sensações térmicas registradas em Antonina se devem não só a aspectos climáticos, mas à posição geográfica da cidade. “Antonina fica na beira da serra, em uma formação em que o ar quente fica represado, então a sensação de abafamento é muito alta”, explicou o meteorologista Tarcízio Valentim da Costa.

Esta quarta-feira foi o terceiro dia consecutivo em que a sensação térmica ultrapassou a casa dos 50ºC em Antonina. O recorde foi registrado na terça-feira (10), quando atingiu-se a marca dos 59ºC – a sensação térmica mais elevada do Paraná, neste ano. No mesmo período, as temperaturas estiveram acima dos 35ºC.

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A sensação térmica afere a forma como nossos sentidos sentem a temperatura do ar. Segundo Costa, o indicador leva em conta a temperatura e a umidade, que são os dois elementos que mais impactam na sensação de calor.

Jonathan e Bianca, com o filho Arthur.
O vigilante William e a recepcionista Nina, no Fórum de Antonina.
Antonio Marcos e Cláudio, mesmo com o calor, optaram por blusas de manga longas, para se protegerem do sol.
Ciclistas enfrentam o sol a pino.
Dionei se refresca, saltando do trapiche
Joelson também se refresca, dando saltos ornamentais no mar.
Orla de Antonina, em tarde quente.
Trabalhadores descansam à sombra, após horário de almoço
Curitibanos não aguentam o calor e se refrescam na beira-mar
Júlio Berger optou pela pescaria para amenizar o calor
Fila na sorveteria