Quase um quarto dos delegados da Polícia Federal diz sofrer pressão e influência interna na condução de inquéritos policiais, revela pesquisa divulgada na terça-feira pela Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal. Realizado pelo Instituto Sensus, o levantamento mostra que 22,9% dos profissionais afirmaram ser alvo de pressões, enquanto 72,1% declararam o contrário. Outros 5% não opinaram.
O presidente da associação, delegado Marcos Leôncio Sousa Ribeiro, concorda com a maioria dos entrevistados. Para ele, o grau de autonomia interna na PF é elevado, embora admita que é ingenuidade imaginar que a corporação esteja livre de tentativas de coerção.
Ribeiro considera também que existe muita paranoia: policiais que confundem questões operacionais como eventuais pedidos de esclarecimento, por parte da direção-geral, sobre deslocamentos de pessoal com interferências indevidas na investigação. "Seria ingênuo dizer que não há [pressão]. Existe. Mas tem gente que vê chifre em cabeça de cavalo", diz.
O Sensus entrevistou 695 delegados, entre março e abril. Como nas pesquisas eleitorais, o levantamento tem margem de erro de 3% para mais ou para menos. De acordo com Ribeiro, os entrevistados são uma amostra do universo de 2,4 mil delegados ativos e inativos no país.
A independência da PF como polícia judiciária divide opiniões: 48,8% disseram que a corporação tem independência, enquanto 46,5% afirmaram o oposto. Outros 4,7% não responderam. "A polícia internamente adquiriu independência. Nenhum chefe da PF se sente à vontade para chegar à autoridade policial e dizer: Quero que você faça isso. Agora, não dá para falar em independência externa sem orçamento, sem lei orgânica e sob o risco de que basta uma canetada para que o diretor-geral perca o cargo", diz.
Para 83,9% dos delegados, o diretor-geral da PF deveria cumprir mandato de três anos, renovável por mais três. Atualmente, a indicação cabe ao ministro da Justiça. "A PF é um gigante de pés de barro", afirmou Ribeiro, acrescentando que a polícia deveria ser mais do que um departamento no organograma do Ministério da Justiça.
Ele afirmou também que a corporação vive uma "ditadura sindical", referindo-se à disputa interna entre delegados, agentes (escrivães e papiloscopistas) e peritos.