Luiz Felipe Pondé, 55 anos, há tempos virou à direita. O escritor, professor e filósofo é dono de uma das colunas mais polêmicas publicadas semanalmente na Folha de São Paulo. Além disso, participa de debates nos jornais da TV Cultura e da Rádio Bandeirantes. Pondé é assumidamente um pensador liberal que parece sentir prazer em cutucar os pensadores da esquerda. Apesar do passado como anarquista, ele não tem medo de se assumir como um intelectual da direita.
Pondé esteve na última semana em Curitiba para lançar seu novo livro. A Era dos Ressentimentos aborda a sociedade atual, que, segundo o autor, é ressentida e mimada. O livro é formado por pequenos textos inéditos inspirados no filósofo alemão Friedrich Nietzsche. "Nós somos ressentidos. Sempre terá alguém mais inteligente que você, alguém mais bonito que você. O livro também surgiu de algo que pergunto aos meus alunos em sala de aula: o que vão achar de nós daqui a mil anos? Vão lembrar das redes sociais e do iPad. Estamos mais preocupados em termos direitos, mas trabalhar coisa nenhuma." Confira os principais pontos abordados na entrevista.
Protestos
"As manifestações do ano passado receberam atenção excessiva e, se jornalistas não tivessem sido agredidos, acho que não tomariam as proporções que tomaram. Para muitos, era como se fosse uma balada no final da tarde. Tudo começou pela manifestação do Passe Livre, que é uma coisa impossível. Depois, entrou a classe média e virou o que virou. Ficou um balão inchado. Não vi as manifestações como uma expressão máxima das democracias. As reivindicações são justas e fazem parte, mas não precisa quebrar e fazer bagunça. Essa esquerda de jardim de infância não gostou do fato de muitas pessoas que não eram do grupo dela participarem das manifestações. A esquerda não gosta de reclamar da corrupção porque sabe que isso faz parte do esquema. A esquerda não pede por melhorias na saúde. Isso são coisas de pequeno burguês." Crise econômica
"A população tem uma visão mais pragmática da vida. Quer saber se vai ter médico no posto de saúde para atender o filho doente, se vai ter como pagar o aluguel, se vai ter professor na escola. Não acho isso ruim. A crise só afeta de fato o brasileiro quando atinge o bolso, que é mais sensível que o coração."
Copa do Mundo
"Surpreendente. Achei que demorou para pegar, esperava uma expectativa maior, mas depois o povo entrou na festa. Esperava vexame fora dos campos e sucesso dentro. Foi o contrário. Foi uma seleção chorosa. O brasileiro entrou na festinha da Copa. Mas, no geral, para o Brasil, não foi bom. As empresas aéreas venderam menos que esperavam, o comércio [fechado em dias de jogos] deixou de vender. Para o país, a Copa foi a imagem do governo Lula. Uma imagem falsa e maquiada, que precisa abaixar IPI para vender mais carros e fazer a classe C do Brasil se endividar. Eu não era tão pessimista que achava que o país ia virar um caos." Eleições
"O voto deveria ser facultativo. Acho que o Brasil acordou agora. É uma lei de cima para baixo, o que chamamos na filosofia de liberdade positiva, quando ela é controlada e imposta. No Brasil, temos a ideia de que o Legislativo não vale para nada e se torna um espaço para carreira política. Deveríamos ter voto distrital, mais localizado. Quando é muito centralizado e amplo, é ruim para a democracia."
Violência
"É um problema que não é só do Brasil. Na França, por exemplo, aumentou o índice de assaltos e roubos. É um problema endêmico. Quando tem crise econômica, a violência vem junto. É preciso ter inteligência policial, repressão física e melhoria econômica. Não quero dizer que as pessoas menos favorecidas são bandidas. A situação econômica desfavorável é uma causa indireta que leva o jovem ao crime. O problema é que a inteligência do crime vem sempre antes da policial." Ser de direita
"Se falar que é de direita, vão achar que você torturou na ditadura. A esquerda é ultrapassada e atrapalha o crescimento do mercado. A única contribuição da esquerda foi na cultura, por dar liberdade para a criação. Eu sou de direita e liberal e defendo a economia de mercado, a liberdade individual e a mídia sem controle algum. Quando eu tinha 19 anos, era anarquista porque eu achava que tinha liberdade e nunca tive saco para instituições. Ser de esquerda naquela época era bom para xavecar as meninas. Fui percebendo como a esquerda acolhe debates de modo abstrato. Me tornei liberal ao ter uma percepção moral de achar que a esquerda acolhe muito bem o mau-caráter e preguiçoso. Não sou extremo a ponto de apoiar um golpe militar. Só maluco pode querer isso."