Mussa Assis chefiou os jornais Última Hora, Correio de Notícias e O Estado do Paraná: referência para gerações de jornalistas| Foto: Ciciro Back/O Estado do Paraná

O tempo ruge

depois da advertênciacomece a cunhagemde cruzes e credos

estamos todosde lambuja

suportar moribundosferos que a estiagemhá de surpreender

estamos todosde lambuja

aí aqui a mesmafriagem levandobaita vantagem

estamos todosde lambuja

no azimute da vidao périplo é finitude

para Mussa José Assis

Sylvio Back (do livro "Eurus", 7Letras, RJ, 2004)

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Última entrevista

Em uma de suas últimas aparições públicas, o jornalista foi entrevistado no programa "Conversa com a Fonte", da ÓTV, em 16 de janeiro deste ano.

O programa, apresentado por Herivelto Oliveira, teve a participação dos também jornalistas Luiz Augusto Xavier e Jorge Narozniak.

Clique aqui e veja o programa na íntegra no site da emissora.

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Um conquistador, de fala mansa e convincente. Assim era, aos olhos de quem o conhecia, Mussa José Assis, jornalista falecido ontem aos 69 anos. Capaz de convencer até o arredio escritor Dalton Trevisan a conceder uma entrevista, Mussa começou como repórter e chegou ao comando de importantes jornais do Paraná e do Brasil. Foi secretário de estado de Comunicação no governo de Alvaro Dias, professor de jornalismo e expoente na profissão.

Paulista de Pompéia, muito jovem se transferiu para Curitiba. Com formação em seminário, dominava o latim. Começou ainda adolescente o trabalho em uma tipografia. Como conta Aroldo Murá, que fez um perfil do jornalista, Mussa assumiu, com apenas 21 anos, a chefia do jornal Última Hora, em São Paulo, sob a batuta de Samuel Wainer. Foi chefe de personalidades como Jô Soares e Boris Casoy. Chegou a ser preso durante a ditadura militar.

O senador Alvaro Dias lembra o tom conciliador e afável marcante na personalidade do jornalista. "Uma vez convidei ele para uma viagem pelo interior de Rondônia. Aceitou, mas brincou: para ir a Paris você não me convida", conta. O jornalista Jorge Narozniak conviveu com Mussa desde meados da década de 60. Estava presente em momentos marcantes, como na despedida de solteiro do jornalista. Narozniak recorda que Mussa até aceitou ser refém durante uma rebelião no presídio de Piraquara para atender a uma exigência dos presos, que queriam a presença de um jornalista.

Solidário

O ex-governador Paulo Pimentel, que foi dono dos jornais Tribuna do Paraná e O Estado do Paraná à época em que Mussa chefiava a equipe, diz que o amigo e funcionário sabia, como ninguém, conversar e convencer. "No período da ditadura, ele contornava sozinho o relacionamento com os militares que invadiam a redação para alterar os textos", conta. Pimentel ainda destaca que o jornalista gostava de ajudar as pessoas. "Era solidário", resume. Mussa deixou o comando dos jornais em 2009. Dois anos depois, já bastante doente, recebeu a Comenda Ordem do Pinheiro do Paraná.

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Sobrinho, o jornalista José Antonio Assis Zerbetto só tem boas recordações dos 39 anos que atuou ao lado do tio. "Foi admirável trabalhar com alguém inteligente e sempre à frente do seu tempo. Ele era capaz de fazer uma leitura correta do momento, no jornalismo ou na vida", relata. Zerbetto afirma que Mussa estava juntando materiais e arquivos para escrever um livro sobre o trabalho como jornalista.

Casado por 45 anos com Guiomar, com quem teve seis filhos – todos orgulhosamente formados na universidade. Francisco seguiu os passos do pai e virou jornalista. Construiu com as próprias mãos a casa de madeira em que morava numa chácara em Colombo, na Grande Curitiba. Nos últimos dois anos sentiu mais fortemente as consequências de um enfisema pulmonar. Mas não conseguiu deixar de fumar. Apagou o último cigarro antes de entrar no hospital. Desde a terça-feira de Carnaval estava internado.

O velório do jornalista acontece na capela 3 do Cemitério Municipal de Curitiba até as 16 horas. O corpo deve ser cremado e as cinzas jogadas na chácara onde morava.